Os aplausos vão para... Tereza Cristina
segunda-feira, 17 de dezembro
de 2018
Eliane
Cantanhêde
Apesar do foco na Economia, com Paulo Guedes, e na Justiça, com Sérgio Moro, a formação de pelo menos duas
outras áreas merecem aplauso no futuro governo Jair Bolsonaro: a Agricultura e
a Infraestrutura. Além de serem grandes geradoras de empregos, o que é urgente,
ambas são fundamentais para o desenvolvimento, a recuperação da nossa combalida
economia.
Na Agricultura, a agrônoma Tereza
Cristina [foto abaixo] é dessas que não faz estardalhaço, não se
mete em confusão, trabalha muito e ganhou respeito e interlocução na
Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e na Frente Parlamentar do
Agronegócio. Não chegou ao Ministério da Agricultura por outra coisa senão
mérito.
Na Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, capitão reformado do Exército, como Bolsonaro, tem três troféus: passou num concurso para a única vaga de consultor legislativo da Câmara, foi o primeiro de turma no Instituto Militar de Engenharia (IME) e tem a maior média de notas de engenharia civil na história da instituição.
Tereza Cristina anuncia três prioridades. Primeiro, reformular e
ampliar o seguro para os produtores rurais e, com isso, poder ampliar o
crédito, hoje limitado e restrito ao Banco do Brasil. E está obstinada com a
ideia, como Bolsonaro, de flexibilizar regras, desburocratizar, acelerar
concessões de alvarás.
Nos agrotóxicos, é pragmática: a questão não é usar ou não, é
calibrar o uso com segurança e eficácia. “Ninguém planta nada sem defensivos
agrícolas, isso não existe. O que precisamos é racionalizar o uso e preservar
as garantias.” Esse debate é uma guerra, mas ela prefere diplomacia, está
costurando apoios, explicando, convencendo.
Outra questão-chave para o agronegócio, um dos mais poderosos do
mundo e essencial para manter o Brasil flutuando na recessão de 2014, 2015 e
2016, é a infraestrutura. Sem estradas, pontes, ferrovias e portos, não tem
como escoar a produção. No mínimo, com segurança e competitividade. E aí entra
o ministro Tarcísio Freitas.
Ele já assume com o PPI a pleno vapor no governo Temer, com R$ 239 bilhões à mão. Assim,
Bolsonaro fará dois golaços já na largada, com a concessão, em março, de mais
doze aeroportos, inclusive Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ), e a licitação
da concessão da Ferrovia Norte-Sul. A expectativa é a conexão ferroviária de
Mato Grosso à Norte-Sul, unindo os portos de Itaqui, ao norte, e de Santos, ao
sul. “Sem um real do orçamento”, diz ele, um privatista convicto.
Suas prioridades:
1) transferência de ativos à iniciativa privada (privatização,
concessão...);
2) tirar os esqueletos do armário, como passivos de concessões que
falharam, caso de Viracopos (SP);
3) decidir o que fazer com as obras públicas paradas (uma das
tragédias brasileiras) e garantir eficácia nas futuras. Suas palavras de ordem:
planejamento, racionalidade, previsibilidade e credibilidade, tudo o que os
brasileiros precisam e os investidores internacionais exigem. O momento é
favorável ao Brasil, com México adernando à esquerda, Argentina em crise,
ambiente político duvidoso em alguns e falta de escala nos demais. Onde
investir? No Brasil, claro.
Assim caminha o futuro governo, com grandes nomes e expectativas
na economia de Guedes, no combate à corrupção com Moro, mais segurança na
agricultura e audácia na infraestrutura. Agora, é cuidar para que a política
não atrapalhe. Na reforma da Previdência, é aprovar ou aprovar.
Além disso, Bolsonaro precisa ter consciência de que seus filhos
estão excessivamente sob os holofotes e isso nunca dá certo. Com um funcionário
atrás do outro assombrando a família no submundo da Alerj e pairando sobre o
próprio pai em Brasília, ninguém vai falar de agricultura e infraestrutura, só
de fantasmas.
Título e Texto: Eliane Cantanhêde, O Estado de
S.Paulo, 16-12-2018
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