A Caixa Preta
POR MERVAL PEREIRA23/11/2018 04:30
Quando o hoje governador eleito de Goiás Ronaldo Caiado
denunciou no Senado que o acordo com Cuba para o programa Mais Médicos seria
uma maneira de “lavar” parte do dinheiro, que voltaria ao Brasil para financiar
o PT, parecia mais uma denúncia sem comprovação de um inimigo dos petistas.
Agora, no desdobramento dos telegramas que a "Folha de
S.Paulo" revelou sobre como o programa foi montado, há uma parte da troca
de mensagens altamente reveladora de uma triangulação financeira envolvendo o
BNDES.
Segundo relato do Itamaraty, os cubanos alegaram que “o incremento
das importações brasileiras de Cuba decorrente da contratação de serviços
médicos poderia dar mais sustentabilidade às relações comerciais bilaterais e,
consequentemente, mais recursos para que o lado cubano tenha condições de
honrar, no futuro, dívidas que estão sendo contraídas por conta do
financiamento brasileiro em diversas áreas, notadamente de infraestrutura, com
a ampliação e renovação do Porto de Mariel”.
Os cubanos propuseram “um mecanismo de compensação” para
pagamento dos financiamentos, e o Brasil sugeriu que fosse feito através de uma
conta bancária brasileira. Como se vê, a proposta era de que Cuba pagasse os
empréstimos do governo brasileiro com o dinheiro que o próprio governo
brasileiro lhe pagaria pelo programa Mais Médicos.
Toda a negociação, segundo os relatos oficiais, foi feita em
termos comerciais, e não de “ajuda humanitária” como o programa era vendido.
Por isso, prevendo que o novo governo de direita, que derrotara o PT, faria uma
investigação sobre o programa, os cubanos apressaram-se a rompê-lo
unilateralmente.
O caráter pecuniário do programa, em benefício da
ditadura cubana, explica porque o governo petista não se interessou, ao
longo desses anos, em montar um programa de estímulo para que médicos
brasileiros fossem substituindo gradativamente os estrangeiros, na maior parte
cubanos.
Se fosse um “programa de solidariedade”, como também era
chamado, não teria sido rompido abruptamente, sem que fosse feita uma tentativa
de negociação com o futuro governo. Ou, pelo menos, haveria uma retirada
gradual dos médicos, dando tempo ao novo governo de reorganizar a situação
médica nos grotões brasileiros.
Imaginemos se organizações realmente humanitárias como o
Médicos Sem Fronteira, ou a Cruz Vermelha, cujos integrantes trabalham em
lugares inóspitos e têm que enfrentar guerras e ditaduras sanguinárias,
decidissem abandonar seu trabalho por alguma dificuldade com os governantes
locais.
Tudo foi feito como um acordo comercial, e dessa maneira foi
rompido por Cuba com a chegada de um novo governo, crítico à ditadura cubana. A
Organização Panamericana de Saúde (OPAS) só entrou na negociação justamente
para que o convênio tivesse ares de ajuda humanitária.
Os telegramas da embaixada brasileira em Havana revelam que
partiu de Cuba a proposta para criar o programa Mais Médicos no Brasil,
justamente para viabilizar recursos para a ditadura, que tem na exportação de
mão de obra médica um dos seus três maiores produtos, só perdendo para a cana
de açúcar e o tabaco.
O Brasil aceitou exigências de Cuba de não realizar o
Revalida, programa que avalia a capacidade dos médicos estrangeiros, nem
permitir que eles exercessem a profissão fora do programa, para evitar que
pudessem pedir asilo e trabalhar aqui. As questões jurídicas deveriam ser
levadas à "Corte Cubana de Arbitragem Comercial Internacional”, sob suas
normas processuais, na cidade de Havana, e no idioma espanhol.
Como não se sabe nem mesmo quanto o Brasil pagou
nesses cinco anos de convênio com Cuba, e nem a forma do pagamento – se como
compensação pelas obras da Odebrecht em Cuba, ou através das OPAS - será
preciso agora abrir a caixa preta do BNDES para entender exatamente o que
aconteceu.
A empreiteira Odebrecht estava envolvida em todas as obras
de infraestrutura de Cuba, especialmente no Porto de Mariel, e é possível que
pelo menos parte desse dinheiro tenha sido transferida para o PT, dentro do sistema
de financiamento de obras públicas exportado pelo governo petista para muitos
países da América Latina. Vários desses governantes estão hoje ou presos ou
respondendo a processos.
______________
Quanto mais mexe, mais fede. Entenda o porquê de tanta
pressa por parte do governo de Cuba, em retirar os “médicos” cubanos daqui.
Como sempre, onde o PT toca vira corrupção, roubalheira, mentira e tudo de
ruim.
A Comunicação
Blog Merval Pereira: A caixa-preta https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/caixa-preta.html
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