Dois cruz-altenses na selva de Brasília: uma homenagem
Sergio Etchegoyen e Eduardo Villas Bôas. Dois gaúchos,
amigos da vida toda, companheiros de farda, homens de bem: artífices da
transição que permitiu ao Brasil atravessar as crateras do inferno que se
abriram sob nossos pés com o estelionato eleitoral de 2014 e as revelações da
operação Lava-Jato.
Num país em que a inépcia das autoridades gera descrença e
empresta verossimilhança ao cinismo absoluto, todas as homenagens seriam poucas
para os Generais que, esgrimindo palavras apenas, com a espada embainhada,
garantiram a manutenção da democracia em uma das quadras mais sinistras e
convulsionadas da nossa trajetória como nação independente. Por óbvio, não
estamos falando de tarefa corriqueira, passível de ser levada a cabo por
qualquer um.
O papel de Villas Bôas e Etchegoyen será reconhecido como
primordial pela historiografia isenta que começa a se constituir no Brasil.
Talvez mais importante seja perceber nos seus exemplos que estadistas não
precisam ser sempre figuras abjetas, predadores, monstros de indiferença,
egoísmo e estupidez.
Como no passado em que tivemos gente da estirpe de Caxias,
Rio-Branco, e tantos outros, os dois conterrâneos de Cruz Alta provam que
inexiste no DNA nacional gene recessivo que impeça o indivíduo de ter vergonha
na cara, abnegação, patriotismo, capacidade de planejamento, competência,
flexibilidade estratégica, visão política, inteligência, firmeza de propósito.
Nas lides do Estado, cumpre enfrentar as circunstâncias
reais, não as imaginadas. Alguns, bafejados pela sorte, consagram-se como
gestores de épocas de prosperidade e bonança. Outros, atingem o reconhecimento,
em vida ou postumamente, pelo que conseguiram evitar. Se as ações dos primeiros
são vistosas, radiantes, as dos últimos, frequentemente invisíveis ao grande
público, podem somente ser aquilatadas em sua verdadeira dimensão com o
necessário distanciamento temporal. Este é certamente o caso de Etchegoyen e
Villas Bôas.
Vale recordar que uma coletividade que não cultua os seus
heróis estará fadada à barbárie, pois se tornou incapaz de distinguir entre bem
e mal, acerto e erro, corrupção e integridade. Em suma, perdeu por completo o
senso moral.
Esperemos, portanto, que os nossos concidadãos devotem, no tempo
devido, o mais do que merecido reconhecimento a esses dois grandes soldados do
Exército de Caxias.
Este reles servidor público, que teve oportunidade de
conhecer ambos, não poderia se furtar a deixar consignada esta singela e justa
homenagem. Que muitas outras sigam-se no futuro.
*João Paulo S. Alsina Jr. é diplomata e escritor.*
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