Radicalismo goela abaixo do povo
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
Péricles
Capanema
Na
entrevista coletiva de 29 de agosto, por ocasião do lançamento de seu livro,
José Dirceu foi didático: “Temos um programa radical e a maioria do
Parlamento precisa ser combinada com uma grande pressão popular”. Como
exemplo de pressão popular, citou o cerco da militância à Câmara e ao Senado.
A intimidação de legisladores — aqui entra o uso inescrupuloso de
dossiês, às vezes chega até a ameaças à família, sequestros e morte — constitui
tática revolucionária antiga, empregada na Revolução Francesa, a torto e a
direito na Revolução Comunista e, mais recentemente, amplamente utilizada na
Venezuela. Aplicá-la no Brasil é congruente com as raízes doutrinárias do PT,
na prática o sucessor do Partido Comunista. Basta que a ocasião se apresente e
seja politicamente conveniente. O leninismo continua vivo.
José Dirceu [nas fotos acima, com Fidel Castro] se dirigia em especial a petistas e a membros de correntes ideológicas a ele próximas; em verdade anunciava plano de transformar o Brasil tão logo factível em uma Venezuela — a marcha do radicalismo goela abaixo do povo rumo ao bolivarianismo. Para tanto, estimulava a militância a procurar eleger tantos quantos possíveis para a Câmara e o Senado, ademais de tentar colocar Haddad no segundo turno das próximas eleições. E aí fazê-lo vitorioso.
O dirigente petista acha que haveria suficiente transferência de
votos de Lula para seu ungido (ou seu poste), o que lhe garantiria a vaga em 28
de outubro: “Para a margem de transferência de votos ser dentro do que
a gente espera, 20 ou 30 dias são mais que suficientes. A Justiça decidirá até
17 de setembro. Teremos tempo para cada eleitor tomar conhecimento de que Lula
é Haddad e Haddad é Lula”.
Observou, ladino: “Eu não diria que é um programa com a faca no
dente, porque esta expressão é praticamente de confronto aberto”. Caso se
despisse da cautela de político matreiro, diria a realidade, é programa faca no
dente, não há dúvida. Outra questão é se a liderança do PT conseguirá
executá-lo, não dependerá apenas do fanatismo revolucionário de dirigentes e
militância. Como reagirá o povo?
O PT tem cartas boas nas mãos em seu intento de venezuelizar (ou
cubanizar) o Brasil. Faz décadas (já era assim no período militar), a esquerda,
em seus vários graus de radicalidade, “grosso modo”, domina a universidade, os
seminários, as redações e os clubes grã-finos. É um câncer que deitou
gigantescas metástases e que só poderá ser curado por trabalho ideológico sério
ao longo de anos e anos a fio. Não é rósea nossa situação. Kerensky pavimentou
a via para Lênin; os girondinos facilitaram o caminho para os jacobinos. O
Brasil, triste sina, está apinhado de kerenskys e de girondinos. Não constroem
estradas, mas as pavimentam, para que outros nelas trafeguem.
Um exemplo, talvez o mais conhecido. Na Jovem Pan, FHC comentou a
possibilidade do segundo turno entre Bolsonaro e Haddad ou entre Bolsonaro e
Alckmin. Perguntado sobre possível aliança entre PT e PSDB, respondeu
sereno: “Espero que o PSDB vá para o segundo turno e acho que o PT
espera a mesma coisa, mas dependendo das circunstâncias, eu não teria nenhuma
objeção a isso”.
A declaração irritou apoiadores de Alckmin; afinal, era o maior
líder tucano confessando, a vitória petista não despertava objeção nele. FHC
precisou arranjar uma saída de momento. Contudo, a posição de FHC não deveria
surpreender, era coerente com princípios seus e conduta.
Existem nas situações acima ventiladas consonâncias profundas
quanto a objetivos. “Pas d’ennemis à gauche” (não há inimigos à esquerda),
lembrando fórmula cunhada em fins do século XIX. Em encontro com intelectuais
no Rio de Janeiro, abril de 2014, ambiente descontraído, FHC se deixou
levar: “Hoje, se eu disser que sou de esquerda, as pessoas não vão
acreditar. Embora seja verdade. É verdade!”. Prosseguiu: “O Chávez
só me chamava de ‘Mi maestro’. Eu dizia para ele: ‘Baixinho, por favor’”.
Falava de consonâncias. Elas influenciam fundo, por vezes são
determinantes nas atitudes.
Via de regra, contudo, para os revolucionários, é melhor que tais
sintonias passem despercebidas, pois podem chocar opinião pública desavisada. “Baixinho,
por favor”. Quando não é possível escondê-las, é sempre a diretriz. A
nossa bússola, para esclarecimento do povo, aponta rumo oposto, brado alto e
nítido contra o conluio deletério, ainda para muitos oculto.
O artigo já estava pronto quando houve o horrendo atentado contra
Jair Bolsonaro. Graças a Deus, depois da angústia inicial, parece que caminha
bem sua recuperação. O artigo continua atual, talvez tenha até aumentado de
atualidade. Não julgo que deva modificá-lo.
Comentários
Postar um comentário