28 minutos
Em 28 minutos, o mais importante Jornal deste país, onde
orgulhosamente meu pai foi editor de política na década de 80, e que tem em sua
equipe os maiores e melhores da área televisiva, trabalhadores incansáveis dos
bastidores, me convenceu, no maior paradoxo que testemunhei ao vivo, a votar em
Jair Bolsonaro.
Escreveria, em breve, um artigo fazendo a metáfora de um
náufrago que, desesperado de sede, acaba por beber a água salgada que o mataria
-- em alusão a ter de escolher votar em Bolsonaro. Tenho no meu coração, que
muitos de seus eleitores pensam assim, ainda que sem perceber.
Este artigo, muito provavelmente, não será mais
necessário.
Por quê, João, tamanho exagero na "água salgada"?
Explico:
há dois dias, escrevi que a solução eventual para este país
seria o Federalismo. É nisso, e tão somente nisso, que acredito. Perdi a fé no
presidencialismo com 200 milhões de pessoas sob a foice da União.
Fôssemos um país normal, com alternância de poder entre
esquerda e direita, eu estaria feliz da vida escrevendo ficção. Mas, depois de
décadas de hegemonia esquerdista -- rompida por um solitário pensador
chamado Olavo de Carvalho, que quebrou o dique da represa, permitindo que
pessoas como eu tivessem o caminho aberto, inclusive para criticá-lo -- é
impensável cogitar devolver o poder a estes quadrilheiros da esquerda. Menos de
2 anos após Dilma sair do Palácio do Planalto, rindo, com um país em ruínas lhe
assistindo.
O que temos no Brasil não é um esquerdista social-democrata
que entende a liberdade de mercado moderada e tenta, ainda que ingenuamente,
criar num país continental um "welfare state". Temos aqui o que há de
pior no espectro canhoto: no partido nanico, o PSOL, simbolicamente colocam um
pau mandado de Lula e invasor de propriedades privadas. Não há país no mundo,
bem sucedido, que desrespeite algo tão básico quanto a posse de terra e, acima
disso, da própria vida, a maior propriedade de cada um. Temos, preso, Luis
Inácio Lula da Silva. E sua marionete da ciclovia, Haddad, que simula um
"equilíbrio" entre o PSDB aceitável e a representação da "nova
esquerda mais moderada", mas que, na prática, é cúmplice e sempre foi de
toda esta picaretagem de seu partido e heróis. A esquerda fora da esfera
política é ainda mais forte, e, na minha opinião, ainda mais canalha, pois tem
uma influência esmagadora nos rumos do debate.
Quem manda no país são pequenos grupos, patotas, geralmente
de vagabundos, sindicalistas, achacadores dentro do Parlamento e fora dele, e
um corporativismo desenfreado em todas as profissões. Todos querem ganhar,
ninguém cede um milímetro; em especial os que dizem se preocupar com o
"coletivo".
Sonho acordado com uma espécie de Churchill reencarnado, um
estadista como Reagan com sotaque mineiro, um homem ou mulher com fibra,
articulação, inteligência, humor, habilidade na comunicação, profundo
conhecedor de história política e da humanidade, e conhecido pela população,
mas é como se eu só torcesse para o Botafogo se o Messi fosse contratado. Por
enquanto, torço tendo de aturar o Lindoso.
Na bancada do jornal, Bonner começou bem, fugindo,
felizmente, dos temas que ninguém aguenta mais, mencionados em post anterior
aqui nesta página. Em menos de 10 minutos, em rede nacional, com a economia
dizimada, estou tendo de ouvir sobre "direitos dos trabalhadores",
como se, em 2018, alguém minimamente honesto intelectualmente não soubesse que
a CLT é a maior inimiga de qualquer funcionário, e que o Estado é o maior vilão
neste roteiro cruel.
Depois, foi a parte de igualdade salarial. São 2 formas,
básicas, primitivas, de exigir intervenção estatal com chicote sobre a
iniciativa privada. Assim como o Estado pode chegar pra empresa A e
"exigir" um salário igual para mulheres, o que provocaria uma
demissão em massa assombrosa, tal precedente permitiria ao Estado se meter em
outras questões como censura na imprensa, etc. Tudo, claro, "pelo bem das
trabalhadoras e trabalhadores". É tão primário, que chega a dar pena. E
não vi isso num jornal de faculdade, foi no maior jornal da TV brasileira.
Basta ver o que fizeram na Venezuela, nem precisam enfrentar livros empoeirados
sobre União Soviética.
É triste, mas deprimente mesmo, que pessoas estudadas,
inteligentes, não percebam que recorrer ao Estado para resolver problemas
criados pelo próprio é como cheirar cocaína para aplacar uma overdose.
Foram para a questão de homofobia. O assunto é tão
insuportável, pela repetição, que o número de homofóbicos reais deve aumentar a
cada dia no Brasil. Quem vê o jornal deve pensar que estamos no Iêmen.
No fim, citando o Gen. Mourão, mostram-se, com razão,
assustados com a frase dele, do ano passado, sobre, em português claro, dar um
golpe caso o STF continuasse a jogar o jogo dos ratos. Novamente: num país
normal, isso jamais seria cogitado. Mas aqui, num país de 200 milhões de
habitantes, onde nossos 2 ex-presidentes demonstram simpatia quase fetichista
por ditadores esquerdistas, com empréstimos do nosso dinheiro para todos, o
recado do General, à época, fez-se necessário, infelizmente. E eu duvido,
mesmo, que o próprio tenha se sentido feliz tendo de falar aquilo. Quem entende
o contexto, se deprime. Não há alegria em ter de cogitar saídas absurdas para
um país inteiro.
O Brasil, há muito, está doente. Com a cumplicidade da
imprensa, infelizmente. Um presidiário é colocado nas pesquisas, e levado a
sério. Condenado e vivendo num AirBnb da Polícia Federal. Pablo Escobar teria
inveja do tratamento. Não há normalidade institucional no país. Há lampejos,
voos de galinha, flashes de democracia, e...só. É como contemplar um fogo de
artifício e achar que aquela bela luz durará pra sempre.
Sabemos que o Parlamento nunca irá cortar na própria carne e
pulverizar seus poderes. É corrupção moral e financeira que não acaba. Ano
passado PT e PMDB fingiam estar discutindo. Hoje, fazem aliança descaradamente.
Aécio Neves, que se escondia atrás da cortina da mansão em Brasília, ontem
começou campanha. Deveria estar enjaulado. Dilma, idem. Ambos lideram intenções
de voto para deputados, em Minas Gerais. No Rio, Garotinho parou de dar show na
ambulância e já está nos debates -- bem vestido.
Diante de tudo isso, o sonhador aqui morre, e já sabe que
Bolsonaro não se expressa bem, que não entende de economia, que ficará refém do
Paulo Guedes (um gênio, diga-se, e homem honrado e fiel ao país), que
provavelmente não terá controle do Congresso, que pensa, no geral, abaixo do
que o Brasil merece. Que poderia, na comunicação, destruir seus inquisidores,
de forma irônica, suave e com maestria, mas fica tão tenso que se atrapalha,
dando a vitória, momentânea, ao questionador.
Daí olho para a frente e vejo na tv: uma ilha de ilusões nas
perguntas, e eu jurava que não cometeriam tal erro, e um sujeito simples
dizendo o óbvio: bandido tem que tomar tiro. Não dá pra se meter em empresa
privada. Confio no meu futuro ministro. Sou honesto num meio onde quase ninguém
é. Vejo seu homem de confiança na economia, e lembro dos últimos de Lula e
Dilma: Mantega e Palocci. No meu íntimo, acho que Bolsonaro jamais imaginou que
seria candidato viável à Presidência. Estaria bem no Congresso fazendo oposição
aos esquerdistas, foi meu voto como deputado exatamente para isso. Mas se vê,
agora, no meio de uma pátria em frangalhos, tentando, com suas ferramentas
simples, dar um recado que não sucumbiria ao poder. Homens gigantes prometeram
o mesmo e...falharam. Mas não posso deixar de admirar a ingenuidade, no bom
sentido, do candidato. Principalmente sobre achar que terá controle do
Congresso.
É este o sujeito que temos para vestir a 10 e comandar o
meio-campo, no lugar de psicopatas esquerdistas ou cúmplices medrosos da social-democracia?
Então vai lá, e tente fazer seu melhor. Há milhões ao teu lado e com uma fé
gigante sobre seus ombros.
Consciente, e me parece que há pessoas ao redor dele que
sabem deste fato, que sem Federalismo, para os bem intencionados, tudo não passará
de outro voo de galináceo. O presidencialismo atual, com Haddad, Marina, Ciro e
similares seria desejar a 200 milhões de brasileiros o inferno, e eu jamais
seria tão desumano.
Não esperem de mim um torcedor. Jamais.
Ao contrário: serei extremamente crítico, pois não vejo nele
a figura de mito ou salvador da pátria, pelos motivos já ditos. Invejo, e
admito abertamente, quem vê na figura dele alguém capaz de mudar os pilares do
Brasil. Eu perdi a fé em qualquer homem ou mulher que, sozinhos, digam que o
farão.
Se este homem for à Brasília, e sabotar o poder, fazendo o
impossível para que cada estado tenha autonomia, ele se tornaria o maior
presidente desta triste e carcomida República.
Boa noite.
Por João Ferreira.
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