O que se sabe sobre o suspeito de esfaquear Jair Bolsonaro
Adelio Bispo de Olivera, de 40 anos, é formado em pedagogia, foi filiado ao PSOL entre 2007 e 2014 e tem passagem na polícia em 2013 por lesão corporal; ele foi preso em flagrante na tarde desta quinta.
Adelio Bispo de Oliveira, preso na tarde desta quinta-feira (6) suspeito de esfaquear Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República, teve problemas com pelo menos uma parte de sua família. Segundo afirmou ao G1o marido de uma sobrinha dele, Adelio era distante da família.
Em entrevista à imprensa, Pedro Augusto Lima Possa, advogado do suspeito, "Adelio confessou e assumiu a autoria do atentado" nesta quinta, mas não tinha a intenção de matar. Solteiro e natural de Montes Claros, Adelio completou 40 anos em maio e está em Juiz de Fora há pouco tempo, em busca de trabalho. De acordo com sua defesa, atualmente ele trabalhava como garçom.
Segundo a assessoria de comunicação do 2º Batalhão da Polícia Militar de Minas, o suspeito é formado em pedagogia. Ele foi levado na madrugada desta sexta-feira (7) para o Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) de Juiz de Fora, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap).
Motivação religiosa e política
Lima Possa afirmou à imprensa, na noite desta quinta, que Adelio autorizou a Polícia Federal a fazer buscas em sua casa, que foram acompanhadas pelo advogado. "Acabei de chegar da residência dele, onde foram realizadas buscas pela Polícia Federal, autorizadas por ele, e só agora as testemunhas serão ouvidas", afirmou o defensor.
Ainda segundo o advogado de defesa, as motivações do ataque foram religiosas e políticas, como resposta ao que o suspeito considerava preconceito por parte do candidato. "Ele me disse que foram motivações religiosas, de cunho político e também com relação ao preconceito que o Bolsonaro sempre externa nas falas dele de raça, religião, contra mulher inclusive."
"Ele não tinha intenção de matar, em momento algum. Era só de lesionar", disse o advogado do suspeito.
Ao G1, Flávio Santiago, major da Polícia Militar de Minas Gerais, afirmou que Adelio tem uma passagem na polícia por lesão corporal ocorrida em 2013. O motivo não foi informado. Um familiar contou à reportagem que, naquele ano, fez um boletim de ocorrência contra Adélio depois de ele invadir a casa da sogra.
'A mando de Deus'
Já no boletim de ocorrência do ataque ocorrido nesta quinta, consta que Adelio afirmou, em conversa com policiais após sua prisão, que esfaqueou o candidato do PSL "a mando de Deus".
"Em conversa com o autor, este nos informou que saiu de casa com uma faca de uso pessoal afim de acompanhar a comitiva, e no melhor momento pudesse, tentar contra a vida do candidato, assim tendo feito no momento em que a comitiva passava pela Rua Batista, por achar ser o mais oportuno", diz trecho do boletim de ocorrência.
O documento continua: "Nos afirmou ainda que o motivo do intento se deu por motivos pessoais, os quais não iríamos entender, dizendo também em certos momentos que foi a mando de Deus. As testemunhas disseram à polícia que "o candidato estava sobre os ombros de um homem, momento em que o autor aproximou com a faca em uma das mãos, enrolada aparentemente em uma camisa de cor clara."
Distante da família
Ao G1, o parente de Adelio, que não quis se identificar, afirmou que Adelio estava distante da família e não enviava notícias. "Ninguém fica sabendo, porque ele não dá endereço, sumiu no mundo", explicou o homem, que é marido da sobrinha dele.
"Já tive confusão com ele, pra mim ele não era normal e deu no que deu", disse ele, que acredita que Adelio sofre de "algum distúrbio".
De acordo com ele, o homem teve uma confusão com a família da sobrinha quando arrombou a casa em que vive a mãe dela. "Depois eu tive confusão com ele e ele foi embora e não tive mais notícia", contou.
O marido da sobrinha disse que Adelio é muito religioso.
"Já sabia que um dia ia acontecer qualquer coisa, ele já 'pegou faca' pra irmã dele. A família humilde, pobre, não tem ninguém pra internar, aconteceu isso. Eu acho que é de tanto ler a Bíblia. Acho que ele lia a Bíblia de trás pra frente, de frente pra trás. Não é normal, não."
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Adelio Bispo de Oliveira foi filiado ao PSOL entre 6 de maio de 2007 e 29 de dezembro de 2014. Em nota divulgada nesta quinta, a Executiva Nacional do PSOL repudiou o atentado contra Jair Bolsonaro.
"A agressão sofrida pelo candidato do PSL, Jair Bolsonaro, configura um grave atentado à normalidade democrática e ao processo eleitoral" afirmou o PSOL, em nota. "Nosso partido tem denunciado a escalada de violência e intolerância que contaminou o ambiente político nos últimos anos. Por isso, não podemos nos calar diante deste fato grave. Repudiamos esse ataque contra o candidato do PSL e esperamos das autoridades as medidas cabíveis contra seu autor."
Em outro comunicado, Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, afirmou que "o fato de Adelio Bispo de Oliveiro ter sido filiado ao PSOL, entre 2007 e 2014, não altera em nada o posicionamento do partido em relação ao inaceitável atentado sofrido por Jair Bolsonaro" e que "o PSOL rechaçou em nota a escalada de violência que tem marcado o cenário político nos últimos anos e manifestou seu repúdio ao atentado sofrido pelo candidato do PSL"."Independente de ter tido um breve período de filiação ao PSOL, defendemos que o responsável responda por seus atos de acordo com a lei", afirmou Medeiros.
Críticas políticas no Facebook
Em seu perfil no Facebook, Adelio priorizava publicações de cunho político e social, na maior parte em tom de crítica. Entre os 13 candidatos concorrendo à Presidência da República, Bolsonaro era o alvo mais comum das postagens, mas a instituição que mais recebeu críticas do mineiro de Montes Claros é a Maçonaria.
Henrique Meirelles (MDB) também foi um candidato que recebeu críticas de Adelio em seu Facebook.
Já Cabo Daciolo (Patriota) foi tema de pelo menos duas publicações neste ano: em fevereiro, quando Daciolo anunciou sua pré-candidatura à Presidência, elogiada por Adelio, e em junho, quando o mineiro criticou publicamente o fato de o candidato não ter sido incluído em pesquisas de sondagem eleitoral.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva motivou pelo menos uma publicação, referente a uma possível soltura do petista da prisão, em julho passado, e na qual Adelio diz ter dúvidas de que o então candidato poderia "mudar de atitude".
No entanto, Adelio não chegou a demonstrar apoio ou anunciar o voto em um candidato específico. Em junho, além disso, ele ainda afirmou, em uma publicação, que não vota mais.
Em uma das publicações, Adelio vincula Aécio Neves, candidato do PSDB ao Senado Federal, à Maçonaria.
O suspeito também criticou o presidente Michel Temer e, em maio, publicou fotos em que posou ao lado de manifestantes que seguravam cartazes com os dizeres "renúncia Temer", "fora Temer" e "políticos inúteis". No mesmo dia, ele publicou uma foto sem legenda de um casal vestindo camisetas a favor da libertação de Lula da prisão.
Outros temas que foram alvo de Adelio em seu perfil na rede social incluem a possível venda da Embraer, o Rio São Francisco, a federalização da segurança pública no Brasil,o fim do estado laico, a redução da maioridade penal entre outros.
A última publicação do suspeito que foi mantida aberta data de 3 de agosto.
Ataque em Juiz de Fora
O candidato Jair Bolsonaro foi atingido com uma faca por volta das 15h40 desta quinta-feira, enquanto era carregado nos ombros por um eleitor em um evento de sua campanha em Juiz de Fora.
Em nota, a Polícia Federal afirmou que "contava com a escolta de policiais federais quando foi atingido por uma faca durante um ato público na cidade de Juiz de Fora (MG)" e que "o agressor foi preso em flagrante e conduzido para a Delegacia da PF naquele município. Foi instaurado inquérito policial para apurar as circunstâncias do fato".
Um exame indicou a suspeita de uma lesão no fígado do candidato. Ele foi encaminhado para cirurgia, e os médicos constataram que não houve lesão no fígado, mas houve lesões no intestino. No fim da tarde desta quinta-feira, o estado de Bolsonaro era considerado estável.
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