Exército abrilhanta a carreira dos graduados. Na opinião de militares, MARINHA E AERONÁUTICA “estacionaram no tempo da CHIBATA”



EXÉRCITO ABRILHANTA A CARREIRA DOS GRADUADOS, MARINHA E AERONÁUTICA “ESTACIONARAM NO TEMPO DA CHIBATA”

Nos últimos anos, sobretudo durante a gestão do General Villas Bôas, o Exército brasileiro vêm implementando o que pode ser chamado de a grande valorização da carreira dos graduados. A força tem resgatado e criado não só elementos simbólicos, como o sabre do sargento, a exaltação ao herói sargento Max Wolf Filho, a exposição do Adjunto de Comando do comandante do Exército e a entrada triunfal nas academias, como também vem empreendendo ações práticas, como o reconhecimento de cursos dos graduados como de nível superior, incremento nos currículos e, o que é considerado por muitos como o principal upgrade, uma gratificação de 73% sobre os soldos de graduados que realizarem os cursos de carreira, que permitem sua ascensão ao oficialato.
A força terrestre tem cumprido a risca a Estratégia Nacional de Defesa, segundo militares ouvidos pela Revista Sociedade Militar, a oficialidade da MB e FAB ainda reluta em crer que o graduado, aquele que é construído nas próprias academias para de fato estar no front, para ser o combatente nato, seja capaz de ser uma fonte de iniciativas e de desempenhar todas as funções necessárias durante o desenvolvimento do combate, na presença ou na ausência do oficial.
“(…) combatente será, ao mesmo tempo, um comandado que sabe obedecer, exercer a iniciativa na ausência de ordens específicas e orientar-se em meio às incertezas e aos sobressaltos do combate – e uma fonte de iniciativas – capaz de adaptar suas ordens à realidade da situação mutável em que se encontra. (ESTRATÉGIA Nacional de Defesa. BRASIL, 2009 – Apud Militares pela Cidadania – Silva, Robson Augusto. 2010).”.
Villas Bôas, enquanto comandante da força terrestre, sempre que se apresentava em público o fazia acompanhado de seu fiel adjunto de comando (o então ST Crivelatti). Crivelatti era confundido por muitos com um ajudante de ordens do comandante do Exército, e de fato atuava como tal. Muitas vezes era o subtenente que lia pronunciamentos recebidos ansiosamente pela grande mídia e sociedade brasileira. Até há pouquíssimo tempo raramente alguém com posto menor que major teria autorização para atuar como porta voz de um general de exército. Villas Bôas destruiu paradigmas antigos. 
O exército promove reuniões de alto nível entre os adjuntos de comando dos oficiais generais, onde se discute as questões relacionadas a tropa. Na página oficial do Exército Brasileiro, a disposição de toda a sociedade, hoje estão os dados e currículo do adjunto de comando da força (VEJA AQUI). Tudo isso, incontestavelmente, é parte do processo de valorização dos graduados. O reconhecimento pela cúpula da força terrestre é parte da estratégia para gradativamente aumentar o status do graduado do exército Brasileiro diante de toda a oficialidade, praças e sociedade como um todo.

A RE-INVENÇÃO DO OFICIAL DO EXÉRCITO

A valorização de uma carreira pode ser cuidadosamente construída. É um processo panejado que mistura elementos simbólicos e práticos.

O historiador Celso Castro, em seu livro A INVENÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO, discorre sobre as ações de José Pessoa, oficial que assumiu o comando da Escola Militar em 1930. Pessoa desejava, ao mesmo tempo em que se criava o culto à figura de Duque de Caxias, incorporar essa figura aos oficiais que se formassem a partir daquela época. “A figura de Caxias deveria ‘pairar no seio dos cadetes do Brasil’, como Napoleão entre os cadetes de Saint-Cyr e Washington entre os de West Point.”, diz Celso Castro.
Naquela época foram introduzidos vários elementos simbólicos que serviram para compor e forjar na mente tanto da oficialidade quanto da sociedade a visão que a partir dali se possuiria dos oficiais da força terrestre.
“ Entre os vários elementos inventados para compor a nova “tradição” da Escola Militar, encontramos o estandarte, o brasão e os uniformes históricos dos cadetes. A peça simbolicamente mais importante dos novos uniformes era o “espadim”, uma réplica em miniatura da espada de campanha de Caxias. A peça original foi localizada no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, copiada, e os desenhos enviados à Europa, onde foram feitos os espadins. Através desta arma simbólica, José Pessoa pretendia cultuar, em suas palavras, “o pilar que sustentou o Império”, “o maior general sul-americano”, “o invicto soldado”, “aquele que melhor serviu à pátria e mais a estremeceu”. A figura de Caxias deveria “pairar no seio dos cadetes do Brasil”, como Napoleão entre os cadetes de Saint-Cyr e Washington entre os de West Point.”
O cadete passou a ser uma espécie de elemento simbólico que representava toda secular história de gloria da força. Esse símbolo, o oficial do Exército Brasileiro, foi tão bem construído que hoje, quase 100 anos depois, serve como referência de heroísmo, patriotismo, culto a valores familiares, paternidade, abnegação, honestidade, coragem, gentileza, força, inteligência e vários outros.

A VISÃO DA SOCIEDADE

A Revista Sociedade Militar, que tem uma rede de 19 mil seguidores no Twitter, cerca de 60 mil no Facebook e mais de 100 mil em push notifications, empreendeu apenas no Twitter (onde possui maior percentual de seguidores civis) uma rápida pesquisa com o intuito de verificar de fato se as medidas implementadas pelo Exército para reforçar o simbolismo existente em torno da oficialidade surtiram efeito.
A provocação foi: Quando você pensa em um oficial do Exército Brasileiro qual palavra vem a sua mente?
As primeiras respostas foram: profissionalismo, competência, lealdade, amor (ao Brasil), guardiões (da nação), lealdade, patriota, liderança, honradez, entreguismo, aço, coronel, pai.

A CARREIRA DOS GRADUADOS NA MARINHA E FAB

Ao longo dos últimos meses a Revista Sociedade Militar tem recebido de leitores e colaboradores várias planilhas, planos de carreira, BONOS, portarias e principalmente – o que para nós é mais importante – comentários que refletem a visão de mundo que graduados das três forças têm acerca de suas próprias carreiras e das carreiras de companheiros nas instituições “co-irmãs”. Esse texto foi construído com base nessas participações.
Ficou para nós evidente que a careira dos graduados no Exército já é considerada satisfatória para uma grande maioria.
FAB e MB são instituições bastante semelhantes no que diz respeito ao trato com os graduados e as avaliações foram consideradas baixas, os militares dessas forças estão insatisfeitos.
Na Marinha e Aeronáutica, assim como no Exército, os graduados de carreira ingressam por concurso público, com algumas pequenas diferenças no percurso sua carreira vai ate suboficial. Nas duas forças a ascensão ao oficialato depende de aprovação em concurso interno com pouquíssimas vagas.
Muitos militares da MB e FAB relatam que a situação causa desestímulo e decepção na medida em que percebem que militares com a mesma antiguidade na força terrestre têm muito mais oportunidades. Não enxergam o motivo de ser a eles negado a oportunidade de ascender. “é como se nessas forças a oficialidade de achasse de sangue azul, só quem entra pelas academias chega lá…”. Diz um suboficial.

“Aeronáutica e Marinha estão aquém do reconhecimento dos seus praças e graduados. Entre alguns oficiais há soberba e glamorizacao de um status-quo.”, diz outro militar.

Sargentos e suboficiais ouvidos pela revista consideram que o numero de graduados que na MB e FAB ultrapassam a barreira invisível mas muito fortificada entre graduados e oficialidade é considerado muito pequeno diante do numero de militares que se formam nas escolas de sargentos.
Na FAB e MB muitos tem reclamado da implementação às pressas de “cursos sem sentido“, “… Não se importaram em criar para nós uma verdadeira carreira. Esses cursos foram preparados na correria e uma desculpa para dar ao nosso pessoal o mesmo benefício que deram aos subs do Exército. Lá o curso tem sentido, garante uma possível promoção ao oficialato. Aqui, sinto muito dizer, a coisa foi para dar um aumento disfarçado. Muitos, como eu, estão prorrogando o tempo na ativa, farão o curso e vão embora em seguida. E – pior de tudo – nem todos farão os cursos, ficando como – no quesito salário – uma espécie de “sub do sub”, com salário menor, se bobear, do que terá um primeiro-sargento com os cursos.
Um histórico de lutas por dignidade
Um militar da FAB lembra que tanto Marinha como Aeronáutica, tiveram casos que podem ter reforçado essa desconfiança e distanciamento entre graduados e oficialidade e que por isso as praças de agora acabam sofrendo as conseqüências, “pagando pelos erros de seus antepassados”.
De fato, Revolta da Chibata, Movimento dos Marinheiros, Revolta dos Sargentos e Campanha da Legalidade foram eventos que estremeceram as bases das forças armadas, sobretudo da Marinha do Brasil e Aeronáutica.
Na visão de suboficiais e sargentos da Marinha e Aeronáutica, há um distanciamento exagerado e proposital entre oficiais e graduados da FAB e MB. Alguns acreditam que a coisa tem – potencialmente – conseqüências graves. Par alguns há dois “times”, o time dos oficiais e o time das praças. “Em uma situação real isso pode de fato gerar dificuldades porque a tropa pode acabar hesitando entre seguir o líder imposto ou o reconhecido como mais capaz”, diz um suboficial.
No exército a coisa foi resolvida de maneira bem profissional, todos são ensinados no berço a se respeitar e a criar laços de interdependência e na maior parte das vezes – contam – o oficial permite que as frações da tropa sejam conduzidas pela praça mais experiente.
Não é possível que em pleno século XXI algumas forças trabalhem ainda com uma espécie de sistema de castas, onde a carreira de cada um é definida tão somente no momento de ingresso, no nascimento, exatamente como ocorre na Índia.
Um suboficial narra a visão que oficiais, os “de escola”, têm acerca dos oficiais que não vieram das academias. “Com os médicos, o pessoal dos quadros complementares não tem tanto problema, mas com os da Escola Naval é estranho. Eles não conseguem nos enxergar como aqueles que, além de ter se destacado entre dezenas de milhares que concorreram em um concurso para o ingresso – portanto, os melhores, também cumpriram 20 ou mais anos de serviço com conceitos excelentes, se destacando também entres seus pares – os melhores dos melhores. Insistem em nos olhar de cima para baixo, como se o  ingresso por uma porta diferente atestasse suposta inabilidade, é uma espécie de determinismo… sei lá, muito estranho isso, em pleno século XXI”

OS DADOS COLETADOS

Abaixo os resultados da pesquisa realizada pela Revista Sociedade Militar sobre a visão que os militares das Forças Armadas têm sobre os planos de carreira dos graduados nas três forças.  A margem de erro é 5% e índice de confiança 99%, população-base fixada em 700 mil militares da ativa/reserva. Ressalta-se que a amostra é considerada ótima, a proposta inicial era – a partir de 3  de abril de 2020 – coletar 500 questionários.  Mas, encerramos a coleta de respostas em 04 de abril as 10:20 com 745 respostas de graduados e oficiais da ativa e reserva. A divulgação foi feita no site Revista Sociedade Militar e redes sociais de militares das Forças Armadas. O formulário fornecido pelo Google só permite uma participação por usuário.
Em uma análise rápida dos resultados, dos quais pode se extrair uma rica combinação de dados, percebe-se que as carreiras oferecidas para praças da FAB e MARINHA são consideradas por 95% dos MILITARES como RUIM OU REGULAR.
Dos militares da MARINHA que responderam ao questionário, somente 7% avaliaram as carreiras dos graduados da própria força com BOM ou EXCELENTE. 
Dos militares da AERONÁUTICA que responderam ao questionário, somente 5% avaliaram as carreiras dos graduados da própria força com BOM ou EXCELENTE. 
65% dos militares da AERONÁUTICA avaliaram as carreiras dos graduados do EXÉRCITO BRASILEIRO com BOM ou EXCELENTE.
77% dos militares da MARINHA avaliaram as carreiras dos graduados do EXÉRCITO BRASILEIRO com BOM ou EXCELENTE.
38% dos militares do EXÉRCITO avaliaram as carreiras dos graduados do próprio EXÉRCITO BRASILEIRO com BOM ou EXCELENTE.
Dos oficiais da ativa e reserva que responderam ao questionário 71% avaliaram as carreiras dos graduados do Exército com BOM ou EXCELENTE.
72% dos militares da ATIVA nas três forças avaliaram as carreiras dos graduados no EXÉRCITO com BOM ou EXCELENTE.
88% dos militares da ATIVA nas três forças avaliaram as carreiras dos graduados na MARINHA com REGULAR OU RUIM.
77% dos militares da ATIVA nas três forças avaliaram as carreiras dos graduados na AERONÁUTICA com REGULAR ou RUIM.

COMENTÁRIOS RECEBIDOS NO SITE E NOS QUESTIONÁRIOS

“A Marinha e a Força Aérea não valoriza seus graduados, o Exercito já ministrava o curso de altos estudos desde 2013 e a Marinha e a Força Aérea veio iniciar apenas em 2019 após ao PL1645 e no Exército o graduado tem a oportunidade de ascender até capitão, como pode termos um Ministro da Defesa para as três forças e serem diferentes nas carreiras, como hoje o jovem vai ter incentivo para entrar na Marinha ou na Força Aérea.”
“Percebo uma certa discriminação entre Oficiais de academias com Oficiais vindo da carreira dos graduados. Estes ( de academias) subjugam a competência dos demais por não terem enfrentado a quantidade de anos de preparação na qual eles foram submetidos. A ascensão do graduado ao oficialato na Força Aérea, também tem seus momentos de discriminação, pois as áreas de aviação e controle aéreo são beneficiados com um maior número de vagas bem como uma oportunidade a mais do que as demais especialidades.” (Militar da ATIVA)
“preferem contratar oficiais temporários formados em administração, direito, farmácia do que dar oportunidade para quem já está dentro” (Militar da RESERVA)
“é como se eles fossem uma espécie de nobres… Fui em Clevelândia do Norte (AP) para uma missão e lá, no quartel do Exército, o refeitório era único entre oficiais e praças. Um oficial da Marinha em um local como esse fica visivelmente incomodado…”
“Marinha poderia reconhecer o curso de Habilitação a Suboficial como sendo Altos estudos, mas não fez isso porque isso daria direito ao adicional de habilitação para os SO da reserva…assim criaram o CASEMSO que só está sendo cursado pelos SO antigos que já estão indo pra reserva..assim não adianta de nada para a força. ” (SUBOFICIAL da ATIVA)
“Os graduados do Exército tem realmente uma carreira… na Marinha e na Aeronáutica passar de SUBOFICIAL e uma exceção… são muito medíocres com a gente. ”, diz um suboficial da FAB.
“Eu entrei pela porta errada cara! Fiz concurso para Marinheiro, curso pra cabo, concurso pra sargento e curso de suboficial… disseram que ia até oficial superior, mas era mentira… só dois da minha turma foram!…  fui conceito excelente a vida toda, mas fui pra casa como suboficial. Amigos entraram no Exército no mesmo ano que eu na Marinha muitos hoje são oficiais. Na marinha o praça que chega a oficial é exceção. Isso não é inveja, é percepção de injustiça. Vai querer me convencer que de 600 homens de uma mesma turma só dois tem a mente privilegiada?! Parece que a MB  e a FAB, de acordo com o que sei, estacionaram no tempo da Chibata. ”, suboficial da Marinha.





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