Globalistas assanhados com Biden

 

Eles não costumam viver de fatos, apenas de narrativas. Adotam a visão estética de mundo, e por isso a ONU é seu maior símbolo

Rodrigo Constantino

Se há uma divisão mais binária que pode ser feita no mundo hoje, do ponto de vista ideológico, ela seria entre globalistas e nacionalistas. Como toda divisão maniqueísta, esta peca pelo simplismo e não dá conta da real complexidade da vida em sociedade. Mas não resta muita dúvida de que há um embate cada vez maior entre aqueles que defendem uma espécie de governo mundial tocado por tecnocratas de cima para baixo e aqueles que defendem a soberania nacional de cada país.

Para o avanço da causa globalista, faz-se necessário ter pautas globais, naturalmente. E é por isso que a pandemia caiu como uma luva para os projetos globalistas: um problema mundial demandaria uma solução global, controlada pelas entidades supranacionais, tais como ONU e OMS. Não por acaso, o criador do Fórum Econômico Mundial em Davos escreveu um livro sobre o “Great Reset” e o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau endossou sua mensagem. E também não é coincidência que esses globalistas misturem a pandemia ao “aquecimento global”, outra questão que seria mundial e justificaria ações impostas pela tecnocracia poderosa, a despeito da vontade popular de cada nação.

Desnecessário dizer que Donald Trump era o maior ícone da postura nacionalista. Agora de saída, e com seus adversários fazendo de tudo para que seja uma saída humilhante e definitiva, os globalistas se mostram mais assanhados, cientes de que terão no comando dos Estados Unidos um aliado. Joe Biden foi vice-presidente de Obama, referência globalista, que repetia que a América era tão excepcional quanto qualquer outro país e que desejava mudá-la profundamente. Obama certamente não era um patriota apaixonado por seu país, e não por acaso se considerava um “cidadão do mundo”.

Biden chega ao poder por um partido ainda mais radicalizado e esquerdista, que despreza o legado norte-americano, considerado um rastro de opressão. A base militante democrata, liderada por figuras como Alexandria Ocasio-Cortez, endossa planos mirabolantes como o Green New Deal, uma mistura de stalinismo e infantilismo, que pretende modificar toda a matriz energética do país em uma década. É globalismo na veia, e turbinado. E os nomes que Biden tem apontado para seus ministérios demonstram o compromisso com tal visão de mundo, a começar pelos responsáveis pela política climática.

O presidente eleito anunciou os membros-chave de sua equipe ambiental, dizendo que seu governo priorizaria uma resposta unificada às mudanças climáticas. “Gente, estamos em crise”, disse Biden em um recente evento em Delaware. “Literalmente, não temos tempo a perder. Assim como precisamos ser uma nação unificada para responder à covid-19, precisamos de uma resposta nacional unificada às mudanças climáticas.” Os indicados, disse ele, “liderarão o ambicioso plano de meu governo para lidar com uma ameaça existencial de nosso tempo: a mudança climática”.

Os produtores rurais na França dependem de subsídios estatais para sobreviver

E é nesse contexto que o nome de outro líder nacionalista importante foi mencionado. Biden já tinha feito ameaças diretas ao Brasil durante a campanha, afirmando que enfrentaríamos até sanções se não adotássemos a política climática “desejável”, ou seja, imposta pelos globalistas. Nossa esquerda ignorou esse arroubo de “imperialismo estadunidense” pois veio da esquerda e contra a direita. O Brasil pode ser tratado como uma republiqueta perigosa, como um regime nefasto, do tipo Irã, que está tudo bem se for para atacar Bolsonaro. E o “czar” do clima do futuro governo Biden voltou a repetir a mensagem, dessa vez com mais virulência ainda: os “Bolsonaros” do mundo precisam entender que os Estados Unidos de Biden não vão tolerar desrespeito ao combate contra o “aquecimento global”. Ou deixamos Biden ditar nossas políticas, ou vamos pagar um alto preço.

Mas Biden não está sozinho na arena globalista e enfrenta concorrência pelos holofotes. Emmanuel Macron, presidente francês, resolveu atacar o Brasil esta semana uma vez mais, ele que já tinha usado os incêndios na Amazônia para bancar o protetor do mundo contra um governo irresponsável, ignorando que várias outras florestas queimavam mundo afora. Macron disse que a Europa não pode mais depender da soja brasileira, supostamente extraída do desmatamento. É preciso apostar na soja europeia para proteger o clima global.

Faltou, claro, apresentar um só dado para embasar tal acusação. Globalistas não costumam viver de fatos, apenas de narrativas. Adotam a visão estética de mundo, e por isso a ONU é seu maior símbolo, uma entidade incapaz de entregar resultados concretos, mas ótima para discursos inflamados. A campanha de difamação contra o Brasil tem se intensificado, e a esquerda brasileira, traidora da Pátria, aceita fazer o papel de agente globalista de olho no desgaste do presidente Bolsonaro.

Macron tem basicamente dois interesses nesse tipo de discurso: colocar-se como líder globalista e proteger o agronegócio francês, pouco competitivo perante o brasileiro. Os produtores rurais na França dependem de subsídios estatais para sobreviver, e fazem um lobby intenso para preservar privilégios. Com essa fala, Macron mata dois coelhos numa só cajadada: banca o bonzinho salvador do planeta e agrada a sua base de eleitores. Mas essa sinalização de falsas virtudes tem um alto custo.

Embora a França seja responsável por apenas uma quantidade insignificante das emissões globais de gases de efeito estufa, a fim de anunciar sua liderança moral no combate ao aquecimento global, o governo do presidente Macron aumentou no passado recente os impostos sobre carros e caminhões movidos a diesel. Os custos desse exercício de sinalização de virtude caíram desproporcionalmente sobre os cidadãos da classe trabalhadora e do campo, dependentes de seus automóveis e caminhões. O resultado foi a revolta dos “coletes-amarelos”, num grau de violência preocupante.

Não dá para agradar a todos. Ao apostar na rota globalista, essa turma desperta cada vez mais insatisfação ou mesmo revolta no povo. Ao desprezarem as fronteiras nacionais, os globalistas geram como reação fenômenos como Trump, Bolsonaro ou até Le Pen. É a Terceira Lei de Newton: toda ação produz uma reação. Os globalistas estão mais assanhados com a pandemia e agora com Biden no poder. Vão dobrar a aposta. Mas não podem achar que o outro lado ficará calado ou passivo. Nem mesmo com as redes sociais tentando impor tal silêncio. Haverá resposta.

Título e Texto: Rodrigo Constantino, revista Oeste, 15-1-2021




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