Abraham Lincoln foi cancelado!


O “socialismo democrático” é o mais recente movimento com ambições de Um Só Mundo. Busca criar a sociedade perfeita de sua imaginação por meio de uma cultura do cancelamento dos dissidentes

Rodrigo Constantino

Uma escola em São Francisco resolveu mudar de nome. Trata-se da Abraham Lincoln High School. O motivo? Segundo a pressão de militantes, o ex-presidente homenageado não demonstrava que a vida dos negros realmente importava para ele. O deputado federal Paulo Eduardo Martins desabafou: “Cancelaram Abraham Lincoln, o homem que acabou com a escravidão e foi assassinado por isso. O que ele fez não foi suficiente para satisfazer a militância. Não vai sobrar ninguém”.

E não vai mesmo. Para entender o motivo, antes é preciso mergulhar no que representa o movimento “woke” dos “justiceiros sociais” da era moderna. Aquilo que muitos tratam como chato ou infantil mascara uma ideologia totalitária perigosa. Sim, chega a ser uma piada de mau gosto às vezes. Mas é uma piada sem graça, pois ela tem e terá cada vez mais efeitos nefastos na vida das pessoas. Para reagir, é preciso compreender.

O socialismo está de volta, e mais uma vez em guerra contra o nacionalismo em geral e a América em particular. A tese é de Evan Douglas Sayet, um comediante e palestrante conservador. Sayet é o autor de The Kinder Garden of Eden, sobre como o “liberal” moderno pensa e porque ele está convencido de que a ignorância é uma bênção. Também é autor de The Woke Supremacy, um manifesto antissocialista. Para Sayet, a esquerda “progressista” é infantilizada, mas também muito perigosa. Ele acredita que essa guerra ficará mais sangrenta nos próximos anos, e tem bons argumentos para tanto.

Se existe uma coisa que o mundo deveria ter aprendido com a história recente é que não há como apaziguar o socialismo. O socialismo não para suas invasões, opressões, crueldades e atrocidades até que seja forçado a fazê-lo. Não há acordo possível com os socialistas. Em sua busca para criar o mundo perfeito que imaginam, eles não consideram nada sagrado além da causa e acreditam que nenhuma ação está além dos limites. Assim foi e assim sempre será.

Antes, vale fazer uma distinção: o socialismo trata da estrutura de dinheiro e poder; a ideologia é sobre como esse dinheiro e poder são usados. A ideologia tende a ter pouca influência sobre o comportamento, uma vez que o sistema socialista tenha sido adotado. Cada regime socialista teve uma ideologia que era pelo menos um pouco diferente das outras; e ainda, na prática, todos eles exibiram muitas das mesmas características horrendas.

Os polos Norte e Sul são literalmente opostos polares e, não obstante, são mais semelhantes do que diferentes. Os socialistas e comunistas demonizam o nazismo e o fascismo, mas todas são ideologias variantes do método socialista. Em vez de tentar negar o inegável, aqueles na esquerda de hoje tendem a argumentar que Hitler era o “tipo” errado de socialista. Hitler, dizem eles, era um “nacional”-socialista — com ênfase em seu nacionalismo —, enquanto os esquerdistas de hoje são socialistas “democráticos”, e nisso, insistem, reside toda a diferença.

O problema é que, embora existam grandes diferenças ideológicas entre o nacional-socialismo e o socialismo democrático, simplesmente não há diferença sistêmica entre os dois, segundo Sayet. Hitler queria governar o mundo todo. Pessoas que buscam o novo governo mundial são chamadas de “globalistas”. O que eles planejam fazer com o mundo pode diferir — e pode diferir muito — dependendo de sua ideologia, mas o desejo de controle mundial absoluto, em qualquer de suas formas, poderia ser chamado de “globalismo”. Ou seja, mudam os fins, mas permanecem os meios.

O Outro não é reconhecido como uma pessoa de boa vontade que por acaso está errada

Em sua canção Imagine, John Lennon oferece os três requisitos para o paraíso comuns a todo movimento socialista: que não haja posses pessoais, nem países, nem religiões. Sayet explica o motivo. Sem posses, o indivíduo não tem recursos para enfrentar um governo tirânico. Sem nações, não há outros governos fortes o suficiente para desafiar todos os governantes globalistas; sem religião, não existe autoridade moral superior para revogar todos os ditames dos governantes, não importa quão flagrantes e imorais esses ditames possam ser.

Não há dúvida de que os meios usados ​​pelos socialistas anteriores eram infinitamente mais medonhos, mas seu propósito era o mesmo. Os gulags, os campos de morte e as câmaras de gás eram simplesmente as ferramentas mais tecnologicamente primitivas do que hoje chamamos de “Cultura do Cancelamento”. Eliminavam fisicamente o “pária”, enquanto hoje se elimina virtualmente, mas destruindo sua vida também.

Para o autor, a genialidade de Orwell está em sua presciência ao prever como a tecnologia se tornaria os novos gulags e câmaras de gás: uma forma menos sangrenta, mas muito mais rápida, mais barata e mais eficaz para a próxima geração de socialistas silenciar e enfraquecer todos os Outros, a fim de criar qualquer versão do mundo perfeito que fosse imaginada da próxima vez.

Nos últimos cem anos, tanto na teoria quanto na prática, o nacionalismo provou ser a única coisa que fica entre a liberdade e os horrores da economia socialista, a estrutura globalista e as práticas autoritárias e totalitárias exigidas para realizar essas coisas e mantê-las. Os socialistas abraçam um sistema em que um governo venerado possui tudo dentro de seu reino. É por isso que o brilhante Thomas Sowell intitulou uma de suas obras mais essenciais, que descreve a ideologia da esquerda de hoje, A Visão do Ungido.

O nacionalista acredita que a melhor, a mais eficaz, eficiente, moral e justa forma de organizar o planeta é por meio dos Estados-nações, onde os líderes locais, com conhecimento de primeira mão das realidades locais, criam políticas no melhor interesse dos cidadãos locais, que eles podem muito bem encontrar nas ruas. O socialismo democrático é apenas o mais recente movimento socialista com ambições de Um Só Mundo, buscando criar a sociedade perfeita de sua imaginação por meio de uma cultura do cancelamento dos dissidentes.

Em todos os movimentos de supremacia totalitária, a lealdade deve ser apenas, sempre e inteiramente à causa. Assim, mesmo o mais antigo, mais zeloso, mais amado e mais respeitado “guerreiro da causa”, seja essa causa o stalinismo, o nazismo ou o “progressismo” atual, está a apenas uma infração de ser odiado e também cancelado. Assim como a supremacia “woke” não pode permitir nem mesmo uma gota de dissidência de seus seguidores, pois dela pode surgir uma nova seita concorrente, também não pode reconhecer nem mesmo uma gota de decência no Outro. O Outro não pode ser reconhecido como uma pessoa de boa vontade que por acaso está errada.

Para intimidar esse Outro, os totalitários sempre contaram com seus soldados para o trabalho sujo. Os socialistas da Alemanha nazista os chamavam de “camisas marrons”; os democratas do Velho Sul os chamavam de “Ku Klux Klan”; e os socialistas democratas os chamam de “Antifa” e “Black Lives Matter” hoje. A verdadeira ameaça não são os 10% ou mais que são os crentes fanáticos ou os oportunistas, mas os outros 90% que aceitam, repetem e agem de acordo com suas narrativas.

Cada um desses movimentos socialistas sabe que, antes que possa criar o mundo perfeito de sua imaginação, ele deve primeiro destruir o mundo como ele é. Por essa razão, ninguém a serviço dos “wokes” será levado à Justiça, não importa quão hediondo seja seu crime, contanto que avance sua agenda de destruir o mundo como ele é. Seu plano é eliminar todos os erros do mundo, eliminando o reconhecimento do próprio certo e errado.

A grande divisão política na América hoje, segundo Sayet, não é mais entre o Norte e o Sul. Nem mesmo entre “Estados vermelhos” e “Estados azuis”. Na verdade, em todos os Estados de todas as regiões, a guerra cultural se dá entre aqueles que vivem ou trabalham nas cidades e aqueles que vivem e trabalham praticamente em qualquer outro lugar, os cosmopolitas que se enxergam como “cidadãos do mundo”.

Os que votam nos democratas são os muito ricos que se beneficiam por serem os planejadores, os engenheiros sociais, e os muito pobres que dependem deles. A penúltima coisa que os planejadores desejam é que os pobres passem para a classe média e deixem de precisar deles. A última coisa que querem é que fiquem ricos e se mudem para uma casa grande ao seu lado. Os democratas “woke” querem manter as “minorias” como eternas mascotes dependentes, eis a realidade.

O projeto é de poder. Um poder absoluto, total, capaz de limpar o passado e reescrever o futuro em páginas vazias. Não há espaço para o contraditório, para a divergência, ainda que de uma vírgula. O resultado está aí, nesse clima de polarização tribal, divisão, esgarçamento do tecido social e enfraquecimento das instituições. Existem apenas duas coisas em que uma pessoa racional pode acreditar, diante desses fatos: ou as políticas do Partido Democrata não funcionam, ou funcionam exatamente como os planejadores principais planejaram.

Título e Texto: Rodrigo Constantino, revista Oeste, nº 39, 18-12-2020 



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