O Exercício da Obstinação
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Marcelo Alecrim
A sobrevivência de um empreendimento hoje no Brasil
é um exercício de coragem, obstinação e esperança. Coragem para enfrentar os
dissabores, muitos advindos das restrições impostas pelo Estado ao campo dos
negócios privados, obstinação para não desistir diante das imposições e
dificuldades que se apresentam e, sobretudo, esperança nos imensos potenciais
de nosso território.
Abro essa observação nos meus 53 anos de vida, 33
dos quais dedicados à vida empresarial, iniciada aos 19 anos, quando comecei a
ajudar meu corajoso pai como frentista em seu posto de gasolina na cidade de
Canguaretama(RN). Daqueles tempos aos dias de hoje, ultrapassamos barreiras,
abrimos fronteiras, expandimos o nosso empreendimento. Foram anos a fio de
muito labor, mas sempre sob a convicção de que a recompensa sempre aparece
quando as coisas são realizadas com seriedade, zelo e compromisso com a
comunidade.
Confesso, porém, que os últimos tempos têm sido os
mais difíceis para os negócios em nosso país. Pior que os improvisados tempos
do Plano Collor e dos experimentos com a moeda sob o governo Sarney,
contratempos ainda muito presentes na memória.
A maior recessão econômica da história nacional, a
par do desânimo que abateu o espírito de empreendedores, mostra sua face
perversa nos cerca de 13 milhões de desempregados e no desestímulo aos
investimentos.
Somente os obstinados, com sua inesgotável
paciência, puderam resistir à maior crise econômica que já presenciei em minha
trajetória empresarial. Para resistir às intempéries, ancoramo-nos na crença de
que o Brasil foi, é e será sempre maior de que qualquer crise. Foi assim que
conseguimos conduzir o nosso negócio ao porto seguro, sob a solidariedade de
amigos e a unidade familiar.
Felizmente, as nuvens pesadas no horizonte de nossa
economia começam a se dissipar, sinalizando que o nosso amanhã será mais
promissor aos empreendimentos. Não teremos, como se sabe, um crescimento
extraordinário, mas o índice de 1,5% do PIB em 2019 poderá ser a luz no fim do
túnel. Importa, doravante, contarmos com uma política econômica que possa
alavancar os negócios e resgatar a confiança dos investidores.
Nesse sentido, já podemos expressar regozijo ao
constatar que a equipe montada pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes,
prima pela qualidade técnica. Trata-se de um grupo de renomados profissionais,
quase todos com alta graduação em escolas de economia, principalmente a da
matriz do liberalismo, a Universidade de Chicago, onde o professor Milton
Friedman instalou um dos maiores templos mundiais de estudos de economia.
É saudável para o nosso país ouvir dos integrantes
da futura equipe econômica que o Estado se livrará de braços que atrapalham o
funcionamento de seu corpo, como extensões que não fazem parte do core
business das empresas estatais. Deixar o Estado do tamanho mais
condizente com as tarefas que a nossa Constituição assegura – educação, saúde,
habitação, saneamento básico, segurança pública – liberando outras áreas aos
campos da iniciativa privada – esse deve ser o norte a ser seguido.
Queremos ver um país livre das amarras
burocráticas, que tanto impedem o fluxo e o ritmo das operações; uma carga
tributária calibrada pelos critérios de justiça e igualdade entre os entes
federativos, e sem ameaças de geração de novos tributos; segurança jurídica que
garanta às corporações internacionais tranquilidade para investir; segurança
pública, capaz de propiciar aos cidadãos livre locomoção, sem receio de serem
assaltados; um sistema educacional que não deixe nenhuma criança fora da
Escola; enfim, programas sociais voltados para atenuar as necessidades das margens
carentes.
A quadra que atravessa o país é um convite ao
otimismo. O eleitorado brasileiro cumpriu o direito cívico de escolher os seus
representantes e o seu mandatário-mor. Nossa democracia está mostrando a
solidez das instituições, não havendo motivo para receio de retrocesso. Urge
confiar na nova moldura político/governativa que se esboça.
Sou um otimista.
Marcelo
Alecrim é Presidente Executivo do Conselho de Administração da ALE
Combustíveis.
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