Em discurso, Bolsonaro faz aceno ao mercado e manda recado a opositores
Especialistas avaliam que discursos de Bolsonaro mantiveram consonância com a equipe econômica, ao priorizar reformas e austeridade fiscal, mas careceram de apelo à união. Deputado da oposição denuncia suposta agressão à democracia e desrespeito às diferenças
Outrora criticado pela maneira intempestiva de tomar decisões, o presidente Jair Messias Bolsonaro foi elogiado ao tomar atitudes inesperadas no primeiro dia de governo. Durante a cerimônia repentinamente interativa, Bolsonaro quebrou protocolos, ao permitir que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, falasse no parlatório do Palácio do Planalto antes mesmo de se dirigir à população (leia na página 10). Bolsonaro também contrariou recomendações do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e desfilou em carro aberto, acompanhado da mulher e de um dos filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ).
No discurso como presidente, Bolsonaro avisou que vai “combater a ideologia de gênero”, mas pediu “paciência com as diferenças”. Prometeu “dar condições de trabalho às polícias e às Forças Armadas”, atacar “a criminalidade e a corrupção” e “trabalhar incansavelmente para que o Brasil escreva um novo capítulo de sua história”. “Quero agradecer a Deus por estar vivo. Pelas mãos de profissionais que operaram um verdadeiro milagre. Com humildade, volto a esta Casa, onde, por 28 anos, estive como parlamentar. Me deram a oportunidade de crescer e de amadurecer”, declarou no Congresso Nacional.
No discurso como presidente, Bolsonaro avisou que vai “combater a ideologia de gênero”, mas pediu “paciência com as diferenças”. Prometeu “dar condições de trabalho às polícias e às Forças Armadas”, atacar “a criminalidade e a corrupção” e “trabalhar incansavelmente para que o Brasil escreva um novo capítulo de sua história”. “Quero agradecer a Deus por estar vivo. Pelas mãos de profissionais que operaram um verdadeiro milagre. Com humildade, volto a esta Casa, onde, por 28 anos, estive como parlamentar. Me deram a oportunidade de crescer e de amadurecer”, declarou no Congresso Nacional.
Para Geraldo Tadeu, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), os discursos de campanha de Bolsonaro foram “recolocados” nas duas vezes em que o presidente se manifestou ontem. “Em nenhum momento, percebi o presidente fazendo referência à união de todos, uma postura que faltou para o ‘presidente de todos os brasileiros’, como ele se apresentou”, explicou. O cientista político acredita que trechos das manifestações de Bolsonaro foram pensados para “mandar recados” às entidades com as quais ele não concorda. “Quando falou da ideologização nefasta para tradições e do reforço ao direito à propriedade, ele mandou um recado direto aos movimentos sem-terra”, complementa Tadeu.
Ao condenar o “politicamente correto” no comunicado à nação, o presidente exclui os chamados grupos multiculturais, explica o especialista. “Notei uma visão limitante, quando ele enfatiza a necessidade de ‘entrega e renúncia’ para a recuperação moral do país. A menção de ataque ao ‘gigantismo estatal’ atende à demanda neoliberal, apesar das tendências (de origem) nitidamente mais estatais por parte do presidente. Não houve tema novo e, no tom, se assemelhou ao discurso de posse do Donald Trump, de um ‘entrante’ com olhar e palavras ligados à conjuntura percebidas no mundo, com ótica global”, acrescentou Tadeu.
Ao condenar o “politicamente correto” no comunicado à nação, o presidente exclui os chamados grupos multiculturais, explica o especialista. “Notei uma visão limitante, quando ele enfatiza a necessidade de ‘entrega e renúncia’ para a recuperação moral do país. A menção de ataque ao ‘gigantismo estatal’ atende à demanda neoliberal, apesar das tendências (de origem) nitidamente mais estatais por parte do presidente. Não houve tema novo e, no tom, se assemelhou ao discurso de posse do Donald Trump, de um ‘entrante’ com olhar e palavras ligados à conjuntura percebidas no mundo, com ótica global”, acrescentou Tadeu.
Economia
No âmbito econômico, André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, disse que o discurso sinaliza que Bolsonaro está alinhado com as ideias da equipe econômica, o que agrada ao mercado. “Ele tratou das reformas, de um país menos burocrático e eficiente. Eu achei que essa parte do discurso foi muito bem colocada. Do ponto de vista do mercado, é tudo que se queria ouvir”, destacou.
Perfeito também ressaltou que, apesar de o Congresso ter sido renovado, as declarações apontam para uma aproximação com os parlamentares. “Isso é essencial para a aprovação das reformas”, destacou. O economista-chefe destacou, porém, que Bolsonaro se propõe a ser “muito revolucionário” ao “alterar tudo” o que é colocado em prática até então na estrutura de governo e na economia. “Eu só acredito vendo. Não porque não creio nele, mas porque é muito forte essa proposta”
O economista José Márcio Camargo — que foi o coordenador da equipe econômica do então candidato à Presidência Henrique Meirelles — disse que o discurso está de acordo com a “execução” proposta pela equipe econômica. “Foi enfático ao destacar a necessidade de reformas, de austeridade fiscal e de fim dos privilégios. Foi muito claro nesse sentido”, avalia. Camargo participou de reuniões do governo de transição, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Hélio Zylberstajn, economista e professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, declarou que foi um discurso forte e bem marcado pelas escolhas ideológicas que ele representa, mas “sem surpresas” com o que ele defende para a economia.
Perfeito também ressaltou que, apesar de o Congresso ter sido renovado, as declarações apontam para uma aproximação com os parlamentares. “Isso é essencial para a aprovação das reformas”, destacou. O economista-chefe destacou, porém, que Bolsonaro se propõe a ser “muito revolucionário” ao “alterar tudo” o que é colocado em prática até então na estrutura de governo e na economia. “Eu só acredito vendo. Não porque não creio nele, mas porque é muito forte essa proposta”
O economista José Márcio Camargo — que foi o coordenador da equipe econômica do então candidato à Presidência Henrique Meirelles — disse que o discurso está de acordo com a “execução” proposta pela equipe econômica. “Foi enfático ao destacar a necessidade de reformas, de austeridade fiscal e de fim dos privilégios. Foi muito claro nesse sentido”, avalia. Camargo participou de reuniões do governo de transição, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Hélio Zylberstajn, economista e professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, declarou que foi um discurso forte e bem marcado pelas escolhas ideológicas que ele representa, mas “sem surpresas” com o que ele defende para a economia.
Popularidade
Os sinais de popularidade à frente do Planalto não refletem a carreira do isolado deputado Jair Bolsonaro. Entre os aliados, os temas das rodas de conversa no Congresso são a esperança para o futuro. “As palavras podem até mentir, mas as atitudes falam a verdade. O que adianta fazer um belíssimo discurso e depois todo mundo ser preso? Os valores familiares estão distorcidos. Bolsonaro vai colocar em prática tudo o que disse. Essa coisa de militância aguerrida é coisa da esquerda. A nossa é espontânea”, explica o deputado novato Júnior Bozzella (PSL-SP).
No contraponto, opositores não se acanhavam em dizer que eventuais falhas de Jair Bolsonaro no plenário da Câmara poderiam se repetir no parlatório do Planalto. “Ele fez o discurso tosco de sempre. Não apresentou nenhuma ideia, usou aquela repetição de chavões e o resultado foi um pronunciamento de auto-ajuda. Nada do que ele disse tem valor no governo. Não dá para fazer um ‘chamamento’ para que o Congresso marche rumo ao Planalto, a fim de ajudar na administração. Além disso, o presidente não respeita a democracia, que pressupõe o respeito à diferença, e fica alfinetando quem não concorda com seu pensamento”, declara o também deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
No contraponto, opositores não se acanhavam em dizer que eventuais falhas de Jair Bolsonaro no plenário da Câmara poderiam se repetir no parlatório do Planalto. “Ele fez o discurso tosco de sempre. Não apresentou nenhuma ideia, usou aquela repetição de chavões e o resultado foi um pronunciamento de auto-ajuda. Nada do que ele disse tem valor no governo. Não dá para fazer um ‘chamamento’ para que o Congresso marche rumo ao Planalto, a fim de ajudar na administração. Além disso, o presidente não respeita a democracia, que pressupõe o respeito à diferença, e fica alfinetando quem não concorda com seu pensamento”, declara o também deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
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