BOLSONARO EM DAVOS
por Percival Puggina. Artigo publicado em 23.01.2019
“Os setores que nos criticam têm, na verdade, muito o que
aprender conosco. Queremos governar pelo exemplo e que o mundo restabeleça a
confiança que sempre teve em nós.” (Presidente Bolsonaro, em Davos)
Quem esperava Bolsonaro lecionando Comércio
Internacional e Ciência Política em Davos e manifesta frustração por ele não
haver feito isso está em situação mais desfavorável do que a dele. Simplesmente
desconhece a realidade. Dorme à margem dos fatos. Isso não chega a ser problema
se for opinião de um cidadão comum à mesa do bar da esquina, ou de alguém
convencido de que a carceragem da Polícia Federal de Curitiba hospeda um mártir
da luta pela democracia e pela moralidade da gestão pública. No entanto, se a
opinião negativa for emitida por quem se dedica a formar a opinião dos outros,
bem, aí estamos perante um caso a cobrar adjetivos que não escrevo para que o
leitor não imagine que estou invadindo a privacidade de seus pensamentos.
O Brasil inteiro sabe que Jair Bolsonaro é um homem
simples, embora sua formação possa ser até mesmo considerada sofisticada em
comparação com a de Lula, por exemplo. A diferença entre ambos é a honestidade.
Enquanto Bolsonaro não finge ser o que não é, Lula tem um caráter poliédrico,
com uma face para cada circunstância. É capaz de ir a Davos e prometer que vai
acabar com a fome no Brasil e no mundo, jurar que extinguiu a miséria e
descrever o paraíso nacional enquanto o tiroteio corre solto nas cidades do
país. A diferença entre Bolsonaro e Dilma é que enquanto esta pensa que sabe
muito, mas pensa pouco e errado, ele tem consciência do que não sabe e, por
isso, se cerca de pessoas que sabem muito.
Foram essas virtudes, que se erguem acima do saber humano,
que colocaram o novo presidente em sintonia com a maior parte do eleitorado
brasileiro. Foram elas, também, que o fizeram compor o governo menos
político-partidário da nossa democracia. A prudência é uma característica das
almas simples. Foram essas virtudes que o levaram a exaltar em seu discurso a
companhia dos ministros Paulo Guedes, Sérgio Moro e Ernesto Araújo.
Não, Bolsonaro não é o rei do camarote. Li, há pouco, que,
durante o voo, a bordo do avião presidencial, não quis usar a suíte e a cama
reservada ao presidente. Ficou em uma poltrona, como os demais viajantes,
porque “um comandante não abandona sua tropa; tem que dar o exemplo”. Aquela
suíte e aquela cama eram assiduamente ocupadas pelo comandante Lula, o santo da
carceragem de Curitiba, para folguedos extraconjugais a grande altitude,
enquanto sua tropa, de tantos escândalos, já não se surpreendia. Assistiam de
camarote as traquinagens do rei.
Em seu discurso, Bolsonaro foi polido e afirmativo. Deu as
grandes diretrizes do que fará, falou das reformas, expôs seus valores, afirmou
que o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente no mundo. E faz isso
malgrado a carência de recursos e à custa de uma menor produção de riqueza
(quem mais assume tais sacrifícios?). Enfatizou a gigantesca obra educacional
exigida pela realidade brasileira, assaltada pelos encolhedores de cabeças.
Falou em Deus e em família. E quem não gostou vá assistir a Globo.
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