Suboficial da FAB resume sua carreira.
Trinta Anos da Azul 86, 189ª Turma de Sargentos
Especialistas.
Trinta anos não são trinta dias nem trinta meses, assim a
189ª Turma de Sargentos Especialistas chega ao 30º Anuênio. Epa! Peraí! 30º
Anuênio?
Juramos a Bandeira, se não me engano em setembro de 1986, e
nesse juramento, inerente a todo militar, consta: “ Incorporando-me à Força
Aérea Brasileira, prometo cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que
estiver subordinado, respeitar os superiores hierárquicos, tratar com afeição
os irmãos de armas, e com bondade os subordinados, e dedicar-me inteiramente ao
serviço da Pátria, cuja Honra, Integridade, e Instituições, defenderei com o
sacrifício da própria vida.” Este juramento, levaremos pelo resto da vida mas,
vamos nos lembrar das coisas pelas quais passamos...
Após sairmos do Berço dos Especialistas, fomos inseridos nas
mais diversas Unidades da FAB por este Brasil. E começaram nossas experiências
de vida.
O quinquênio virou anuênio e depois foi simplesmente
extinto, congelando-nos nos 15%; Indenizações de Tropa, Moradia e LESP deixaram
de existir; sem falar na etapa alimentação que desapareceu de nossos
contracheques, sendo que hoje em dia até mesmo estes contracheques deixaram de
ser impressos.
Passamos a receber, logo no primeiro ano como sargento o 13º
Salário, que logo era suplantado pelo nosso aumento anual e devidas correções
no mês de janeiro; nossa saúde funcionava e até consultas por telefone nós
conseguíamos, coisa difícil nos dias de hoje pois se você não se deslocar para
os Hospitais por volta das 3 ou 4 da manhã não será atendido. E olha que aqui
no Rio temos três grandes!
Vimos a criação do que seria o CFOE, que acabou por
absorver, justamente os técnicos que estudavam para abandonar a FAB e
pretendiam prestar concurso para o antigo TTN, junto a outros que por um golpe
de sorte conseguiram o aceite de seus diplomas de Tecnólogo, e que hoje do alto
de seus postos de Majores ou Tenentes Coronéis, batem mal ou simplesmente viram
o rosto pra não cumprimentar ou se rebaixar a seus antigos companheiros de
turma. Pobres criaturas!
Vimos a modificação, prá pior da única vantagem que um bom
Suboficial poderia ter, o acesso ao Oficialato fruto de seus méritos ao longo
de sua carreira, pois na FAG anual dos Graduados tinha como último quesito de
avaliação o acesso ao oficialato e se tivesse ao longo de sua História pontos
positivos era selecionado por méritos para fazer o Estágio de Adaptação ao
Oficialato ( EAOF ) após alguns anos como Suboficial.
Curso este depois
transformado em um concurso interno, onde Suboficiais e Primeiros Sargentos
disputam vagas com provas de conteúdos e editais mutantes. Em minha opinião, o
mais injusto dos concursos, onde além da desleal separação de vagas por
especialidades, em que você com média 9 não passa e seu colega BCT, com 50
vagas à disposição, passa com a média 4,13. Bom isso é a sorte de cada um.
Ainda no EAOF, as ridículas cobranças documentais como se você estivesse
entrando na Força a partir daquele momento. Ridículo final de carreira.
Vimos diversos Planos Econômicos. Tivemos até o atraso, em
quinze dias de um pagamento e a modificação, a “posteriori” da própria data de
pagamento. Sem falar nas perdas reais que tivemos na conversão de URV para
Real, onde todos tiveram seus salários corrigidos pela média aritmética dos
últimos três meses e nós tivemos que descartar o mês em que tivemos aumento.
Diversos Governos: o do Grileiro; o do Caçador de Marajás; o
do PlayVelho; dois do Professor Chincheiro; dois do Molusco; 1 ½ da Bruxa (como
dizem no Transporte de Autoridades) e agora o do Advogado (pelo menos ele fala
a Língua Portuguesa corretamente), mas como estamos num Brasil dominado pela
corrupção, não coloco, como brasileiro, minha mão no fogo. E nem ele em nenhum,
em nenhum momento, procurou corrigir nossas necessidades salariais, nos enrolam
com “estudos” que nunca terminam ou se efetivam.
E voltando lá em cima, no juramento: “defenderei com o
sacrifício da própria vida.”, sim, de nossa vida, não as de nossos familiares.
Que privados das devidas correções salariais, não vivem a tranquilidade
financeira pela qual lutamos estas três décadas. Basta olhar para trás! Ficamos
durante os oito anos do Governo FHC e o primeiro ano do Governo Lula, sem
nenhuma reposição e hoje, um Suboficial ganha menos da metade, em valores
reais, do que nós ganhávamos quando éramos Terceiros Sargentos (indexando tanto
pelo dólar, quanto pelo salário mínimo). Sem falar nas perdas que a LRM de 31
de agosto de 2001, não votada até hoje. E as armadilhas que a mesma nos impôs.
Um Tenente Coronel hoje, ganha o que um Suboficial ganhava no passado, e
ninguém vê isso. Por exemplo: até hoje em todas as Polícias e Bombeiros
Militares do País, o soldo de um Suboficial ou Subtenente é igual ao de um
Aspirante. Nas três Forças a diferenciação fez-se notar a partir da LRM, e hoje
já somam um prejuízo de mais de Mil Reais nesta diferença. Sem falar na perda
do direito a promoção um posto acima quando na passagem para a reserva
remunerada, coisa que as Forças Auxiliares continuam tendo.
Afinal entrei na
EEAR almejando ir para casa como Capitão e com proventos de Major, sendo que se
tudo desse errado iria como TERERÉ (Tenente da Reserva Remunerada), mas graças
às “cabeças pensantes”, tudo deu bem mais errado! Sinto-me traído pela
instituição e tenho de me justificar, perante minhas filhas e família, o por
que, se tenho uma função importante e de responsabilidade, ganho tão pouco!
É..., vimos muitas coisas nestes trinta anos! Vimos sair a
lei dos vinte anos para nossos Cabos e recentemente a Promoção a Suboficiais
(sem CAS) para os Taifeiros. Mas um Plano de Carreira digno para os
Especialistas, necas! Vide a mudança de nosso interstício de quatro para sete
anos e a mais nova de todas, o aumento do Interstício dos OEA, de 5 para 7 anos
até Capitão ou ainda da criação do Quadro Complementar de Sargentos com elementos
que sequer fizeram provas. Ou a desmobilização de Unidades Históricas como o
PAMAAF por exemplo.
Pagamos um preço caro, parte pela ignorância de como a
História recente do País vem sendo contada, parte pela postura acomodada e
omissa de nossos superiores e autoridades que não se impõe para defender nossos
poucos direitos.
Mas não só de derrotas a Força nos presenteou. Aplicamos o
que nos foi ensinado na EEAR, lutamos diariamente para administrar, reparar,
prover, desenhar, fotografar, controlar, decifrar o tempo e apoiar nossas
Unidades e chefias. Dentro do que preceituava nossa função, um técnico de alto
nível a baixo custo. Passamos estes trinta anos com honra, luta, suor e muita
força de vontade, além das grandes amizades!
Criamos nossas famílias, ajudamos nossos pais, ganhamos e
perdemos. É assim a vida humana.
Parabéns Azul 86, parabéns companheiros!
Que venham outros trinta anos!
Amizade, Zelo, União e Luta
AD ASTRA ET ULTRA
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