Decisão de Toffoli não salva Flávio Bolsonaro e desmoraliza Supremo em definitivo
Carlos Newton
Já
se disse aqui na Tribuna da Internet que as aparências enganam. Especialmente
no mundo da política, onde a enganação dessa gente é uma arte, como diria
Ataulfo Alves. Mas nesta terça-feira, a estranhíssima decisão do ministro Dias
Toffoli, ao conceder liminar a habeas corpus impetrado pelo senador Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ), à primeira vista foi considerada como uma decisão destinada
a blindar o parlamentar. Mas na verdade havia mais coisas por trás.
O
interesse principal de Toffoli era blindar de investigações a própria mulher, a
advogada Roberta Maria Rangel, e também a mulher de Gilmar Mendes, a também
advogada Guiomar Feitosa.
NA MALHA FINA –
Figuras famosas da sociedade de Brasília, as duas advogadas foram apanhadas na
malha fina da Receita Federal, por movimentações financeiras atípicas. E desde
então as vidas de Toffoli e Gilmar viraram um inferno, com as mulheres exigindo
providências dia após dia, noite após noite.
Nesse
balaio grande da Receita Federal muita gente importante se enrolou. Foram 134
nomes da pesada, incluindo a ministra Isabel Gallotti, do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), o empresário Blairo Maggi, ex-senador e ex-ministro da
Agricultura no governo Michel Temer, o desembargador fluminense Luiz Zveiter e
o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Marcelo Ribeiro – todos se
tornaram alvos de investigações por irregularidades tributárias.
Toffoli
e Gilmar bem que tentaram cumprir as ordens das mulheres, mas a primeira
tentativa deles foi um fracasso retumbante.
INQUÉRITO NO STF –
Na condição de presidente do STF, em 14 de março Toffoli abriu um inquérito
criminal para apurar “notícias fraudulentas, ofensas e ameaças, que atingem a
honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e
familiares”.
Nem
houve sorteio de relator. Toffoli indicou o ministro Alexandre de Moraes, e foi
um erro, porque ele não engoliu a isca. Pelo contrário, Moraes fingiu não ter
entendido a mensagem do mestre e foi enrolando o lero, mantendo como alvo
apenas as fake news, sem jamais se preocupar com ofensas à honorabilidade dos
membros do Supremo e seus familiares.
Já
se passaram quatro meses e até agora… nada, porque Alexandre de Moraes tem mais
o que fazer e está pouco ligando para os problemas matrimoniais de seus colegas
de tribunal.
SEGUNDA TENTATIVA–
Agora, a dupla Toffoli e Gilmar partiu para nova tentativa, tão desesperada
como uma canção de Pablo Neruda. De uma só vez, para salvar apenas as duas
mulheres, eles colocaram um monte de gente dentro de uma carnavalesca Arca de
Noé, com o senador Flávio Bolsonaro na comissão de frente.
Não
é preciso ser um jurista do porte de Jorge Béja, Modesto Carvalhosa ou Carlos
Velloso para perceber que isso não vai dar certo e pode até ser um golpe mortal
na desmoralização do Supremo.
Como
é que Toffoli e Gilmar, cada um com três juízes para assessorá-los no Supremo,
não conseguiram notar que uma liminar dessas é uma maluquice completa? Não
perceberam que os líderes das facções criminosas e do narcotráfico também
seriam beneficiados? E não viram que o Brasil não pode ser transformado no
paraíso da criminalidade?
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P.S. 1 – Tudo isso
está acontecendo apenas porque duas mulheres importantes foram apanhadas na
malha fina da Receita/Coaf… Na verdade, o senador Flávio Bolsonaro não pode ser
acusado de nada. Seus advogados apenas tentaram protegê-lo. Jamais poderiam
imaginar que seu modesto habeas corpus pudesse suspender processos e inquéritos
contra os maiores criminosos do país, de uma só tacada.
P.S. 2 – E o pior da história é que Flávio Bolsonaro nem vai se salvar
com essa decisão de Toffoli, conforme anunciamos aqui na Tribuna da Internet
nesta terça-feira, em absoluta primeira mão, logo após a decisão de
Toffoli. E daqui a pouco a gente volta, com mais detalhes, todos rigorosamente
verdadeiros.(C.N.)
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