O Mito pela culatra



Como o governo Bolsonaro mancha a reputação das FA
Presença sempiterna na história brasileira, para uns incômoda, para outros nem tanto, as FA quase sempre atuaram como a eminência parda dos governos no Brasil. Em certas ocasiões pontuais agiram com louvável precisão, em outras erraram a mão. Mesmo tendo estado no poder por vinte anos – este foi um erro de mão – esmeraram-se por não macular, até onde fosse possível, a reputação das forças singulares, Marinha, Exército e Aeronáutica.
A derrocada do regime militar, devolvendo as tropas aos quartéis e a reabertura política foram pouco a pouco sedimentando a noção de que lugar de milico é na caserna. Mas como a redemocratização na prática significou tão somente a ascensão ao poder pela esquerda neocomunista, soldados do marxismo cultural, a vindita contra os militares foi estrutural. Com o governo federal abarrotado de esquerdistas, por princípio avessos a tudo o que os militares representam, estava aberto o caminho para a vingança. Mas como não se podia agir à luz do dia aos olhos do povo, a retaliação foi matar o cachorro de fome.
Os piores salários do funcionalismo federal eram os dos militares. As condições de trabalho, kafkianas. Sem sindicatos, a suboficialidade sempre viveu subserviente aos oficiais, de suas eventuais migalhas. Benefícios trabalhistas justos e razoáveis como horas extras, FGTS e outros eram anátema, mas dedicação exclusiva e “fé na missão elevada das FA” eram o mantra do dia. Em 2001 a MP 2215 se encarregou de jogar a pá de cal sobre os milicos.
Divisor de águas, o diploma legal que não poderia passar de 30 dias, durou… 20 anos! Ela extirpou direitos quase seculares auferidos aos militares e os jogou numa trincheira sociofinanceira difícil de ser transposta.
Por trinta anos, a cada governo a carreira ficava cada vez menos atrativa. Baixos salários, baixa escolaridade, impossibilidade de crescimento profissional, irrelevância social. O resultado esperado e almejado pelos que cinicamente trabalharam por anos para varrer as FFAA para debaixo do tapete verde amarelo foi a evasão de recursos humanos (obviamente os bons saíam) e o ostracismo institucional; a ponto de os próprios militares se perguntarem, entre pasmos e descrentes: “será mesmo que o Brasil precisa de forças armadas!?”
Mas isso é passado. Um passado inglório.
O governo mítico de Jair Bolsonaro, que se ergueu das cinzas da “velha política” em grande parte devido ao apoio dos “estamentos inferiores” das FFAA, está agora entupido de militares. De acordo com o TCU, 6.157 militares ocupam cargos civis em diversos órgãos do governo. A esmagadora maioria deles é composta, claro, de oficiais, que não moveram uma palha pelo “mito” quando era candidato, mas que agora são bolsonaristas desde criancinha.








Como quem nunca comeu melado, quando come se lambuza, eis que a Marinha, do Brasil, claro, foi parar no protocolo do Conselho Nacional de Justiça. O “segredo das medalhas” como está sendo chamado é um miniescândalo, bem mesquinho e medíocre, mas que parece esconder algo maior e bem mal cheiroso. Boatos há que políticos tenham sido comprados (imagine, que absurdo!) com medalhas pelos donos (isto é, comandantes) militares em troca de uma “mão amiga” na aprovação célere do PL 1645 que culminou na maldita Lei 13.954/2019 (isso mesmo, aquela que prejudicou milhares de veteranos e pensionistas).

E por falar em prejuízo, nada como mantê-lo bem longe, principalmente quando se trata de família, tradição e propriedade… Tendo isso em mente, o General Comandante da Casa Civil [sic] Braga Neto achou por bem e bastante condizente com a moralidade administrativa (a dele, claro!) nomear a própria filha para um cargo técnico (um positivista nato, esse homem!) na ANS. A coitadinha não conseguiu passar na prova do EB (“precisamos mudar isso, papai!”) e, claro, como defensor da família (sempre a dele, não se assanhe o leitor!) o nosso probíssimo combatente arrumou um cabidinho de R$ 13.074 por mês para a filhota. Ora, filha de general não pode ganhar menos que capitão! É a “meritocracia” na prática.
O leitor sensível acha muito!? Vamos parar por aqui, não vamos reabrir feridas como as gratificações que o Governo mitológico pretende dar aos militares elevando as remunerações a até R$ 7 mil. Nem dos 26 condenados por participarem de um “núcleo criminoso no Comando Militar da Amazônia”, entre oficiais e praças.
O fato é que jogar pedra em telhado de vidro é fácil. E soldado não tem vocação para vitrine. Bolsonaro vai passar e as FA ficarão. Mas ficarão íntegras? Permanecerão incólumes a essa incipiente promiscuidade política? Por anos EB, MB e FAB foram as instituições mais confiáveis na opinião do povo brasileiro. Por quanto tempo ainda serão? Será que a moralidade viceja melhor na miséria? Será que é mais fácil ser exemplar quando se vive no estoicismo da caserna? Ou será que os milicos também são tão fracos e facilmente corruptíveis como qualquer um, e a farda afinal de contas não passa de um pano a ser envergado, mas nem tão honrado?
JB Reis – SO RR / FAB


https://portalmilitar.com.br/2020/07/25/o-mito-pela-culatra/

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