Rui Barbosa , no início do século XX.
Como se encaixa bem até hoje !
Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse
povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade e por este povo chamado varonil.
Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que
lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus
filhos, simples e abominavelmente, a derrota da virtude pelos vícios, a
ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família,
célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o “eu” feliz a
qualquer custo, buscando a tal “felicidade” em caminhos eivados de desrespeitos
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem
despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta
falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos “floreios” para
justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer antigas posições
de sempre “contestar”, voltar a traz e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim, pois faço parte de um povo que não
reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer...
Tenho vergonha de minha impotência, da minha falta de
garra, das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir, pois amo este meu chão, vibro ao
ouvir o meu Hino e jamais usei minha Bandeira para enxugar o meu suor ou
enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo
brasileiro!
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a
desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se o poder
nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a
ter vergonha de ser honesto.
Rui Barbosa (1849/1923)
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