Meu Deus, como sofrí no governo militar ...
MEU DEUS... COMO SOFRI NO GOVERNO MILITAR!
DITADURA MALDITA QUE NOS DEIXOU VIVER OS MELHORES DIAS DE
NOSSAS VIDAS!!!
Por Marcelo Rates Quaranta
Eu sou carioca da gema. Até os 9 anos de idade "me
mudaram" para Brasília, em 1971, e lá fiquei até os meus 15 anos de idade.
Voltei para Rio e aqui morei até os 18. Novamente voltei para Brasília, depois
Rio, depois Brasília e finalmente o Rio, onde estou até hoje, há 15 anos. .
Enfim, vivi que nem iôiô entre o Rio e Brasília.
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Acho que o pior período da minha vida foi o governo
militar. Ô ditadura cruel! Em Brasília estudei em escolas-classe, que são
aquelas escolas públicas da Asa Sul e Asa Norte, e era obrigado a frequentar a
Escola Parque, que tinha aulas de marcenaria, pintura, teatro, música, natação
e etc. O ensino nas escolas-classe era terrivelmente ótimo. Puxa... que merda
hein?
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No Rio, eu era oprimido pela minha liberdade de
frequentar as discotecas da época, como Le Bateau, New York City, Hippopotamus,
Noites Cariocas e etc, onde me torturavam com músicas maravilhosas. O pior de
tudo era voltar para casa à noite sem ser assaltado.
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Pela manhã ia à praia de Copacabana, no Lido, onde
infelizmente não haviam arrastões e nem pivetes roubando a gente. Que saco!
Como é que a gente aguentava essa monotonia de viver em paz?
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E quando eu precisava de um hospital público? Eu
tinha! Como pode isso? Tanto em Brasília, no Hospital de Base, quanto no Rio,
lá no Rocha Maia ou Souza Aguiar, cometiam o sacrilégio de me atenderem bem! É
um absurdo isso de ter médico!
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Gente, vocês não sabem como era difícil viver com
educação de qualidade, segurança e saúde! E isso porque éramos terceiro mundo!
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Os pilantras dos militares acabaram com a minha graça
de viajar para Niterói na Cantareira, porque construíram uma ponte ligando as
duas cidades. Fizeram a desgraça de exterminar o romantismo das noites de luar
no interior, porque eletrificaram tudo. E por fim, cometeram o crime de
asfaltar estradas, porque eu gostava de passar horas sacolejando em estradas de
terra, principalmente quando eu ia para VIla Geny pela Rio Santos, no sul do
Estado. Sempre fui fã de comer poeira e vomitar no carro.
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Nem na minha adolescência e nem depois os militares
tiveram a dignidade de me dar um único tapa sequer. Também... eu era bobo e não
dava motivos pra isso.. Só queria saber de estudar, pegar onda com prancha de
isopor e ir para a discoteca. Como eu era alienado! Um tapinha só e hoje eu
seria um herói para certos grupos.
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Mas e aí? Aí veio o maravilhoso governo civil e
consertou tudo o que estava errado. Nossas estradas ficaram esplendidamente
esburacadas, nossos hospitais públicos passaram a ser referências em não
atendimento e nossas escolas públicas ficaram maravilhosamente péssimas, onde você
entra alfabetizado e sai formado em analfabetismo . Hoje nós temos mais emoção
e podemos viver a magnífica experiência de um assalto a qualquer hora do dia, e
até, se formos sorteados, podemos ser vítimas de arrastões nas praias. Tudo
lindo!
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A vida ganhou mais emoção com essa tal
"democracia". Eu era infeliz e não sabia.
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(Marcelo Rates Quaranta)
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