Por que o arroz subiu mais que a inflação? Entenda a alta dos preços

Dólar alto, mais exportações, menos importações e aumento da procura. Veja por que alimentos do dia a dia, como arroz e óleo, ficaram tão mais caros mesmo com a inflação a 2,4%. .

Quem foi ao supermercado nos últimos dias levou um susto: itens que compõem a refeição básica do brasileiro – como o arroz, feijão, óleo de soja e carne – tiveram um aumento significativo nos preços. Em alguns estabelecimentos, o pacote de arroz de 5 quilos, geralmente vendido a mais ou menos R$15, chegou a custar R$40.

O exemplo acima é extremo mas reflete o que anda acontecendo no bolso do brasileiro: o preço da comida subiu. Nos últimos 12 meses, o aumento dos alimentos ficou em 8,83%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

O que confunde muita gente é que a inflação do período não cresceu tanto. O IPCA (Índice de Preços para o Consumidor Amplo), considerado o índice oficial da inflação do país, subiu 2,44% em 12 meses (em agosto subiu 0,24%) – uma fração muito menor que os mais de 8% dos alimentos. 

Afinal, o que está acontecendo? Por que o preço da comida subiu mais do que a média da inflação?

Basicamente, dois fatores principais podem explicar o que acontece:

O dólar está alto

O valor do dólar – R$5,30, em setembro de 2020 – faz com que diversos produtores optem por exportar (vender para outros países) seus produtos, em vez de oferecer o item no mercado nacional. Ao exportar, eles recebem em moeda americana. 

Na prática, para que as empresas brasileiras consigam manter os alimentos aqui, é necessário pagar mais, e este valor acaba refletindo no bolso do consumidor.

No caso do arroz, as exportações apresentaram aumento de 260% entre os meses de março e julho de 2020 – vale dizer que a demanda da China por alimentos é alta, por ser o país mais populoso do mundo. Já a importação do grão teve redução de 59%. O que diminuiu a oferta da mercadoria no Brasil.

De acordo com o Cepea (Centro de Pesquisas Econômicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), o valor pago pelo arroz no campo (plantação) bateu recorde – subiu 63% em agosto de 2020 em comparação com a mesma época do ano passado.

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Aumento de consumo

O auxílio emergencial de R$600 é um dos fatores que estimulou o consumo. Cerca de 65 milhões de pessoas receberam o auxílio do governo – ⅓ da população do país. A maioria dos beneficiários faz parte da população de baixa renda, que usa o dinheiro para comprar produtos básicos para o dia a dia, como alimentação. Com o aumento da procura, os preços acabaram subindo.

Vale lembrar que o auxílio emergencial foi prorrogado até dezembro – com parcelas menores,  de R$300. Tal fonte de renda deve continuar movimentando a economia e influenciando no preços dos alimentos.

Afinal, vai faltar arroz?

Se essa pergunta passou pela sua cabeça, não precisa se desesperar. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o produtor rural não é o responsável pelo aumento do preço nos supermercados (e, sim, a exportação). 

Então, você vai encontrar arroz nas prateleiras dos estabelecimentos. Porém, o valor pago pode não baixar tão cedo.

E o óleo de soja?

O preço de outro item básico da alimentação chamou a atenção dos brasileiros: o óleo de soja. Segundo a Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o produto ficou mais caro em 17 capitais do país em setembro de 2020. Entre elas, destacam-se Rio de Janeiro (aumento de 22,4%) e Porto Alegre (aumento de 21,1%) e São Paulo.

Na capital paulista, o preço por do litro quase dobrou, chegando aos R$6. De acordo com o IBGE, na média, o óleo de soja subiu 18,6% este ano.

Mas por que aumentou?

O óleo é derivado da soja, como o próprio nome sugere. E a soja é o produto que o Brasil mais exporta. Em 2020, já foram negociadas mais de 75 milhões de toneladas do grão – esse número foi de cerca de 74 milhões de toneladas no ano inteiro de 2019.

Por isso, existe uma espécie de “disputa” pela mercadoria entre exportadores e indústrias brasileiras.

O preços vão permanecer assim por muito tempo?

De acordo com o Ibre (Instituto Brasileiro da Economia), se o valor do dólar continuar alto, a resposta é sim. A organização prevê, no total, aumento entre 8,5% e 9% no preço dos alimentos este ano.



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