Os heróis esquecidos e o governo da traição



“Como manter a Ordem na sociedade quando o próprio organismo responsável pela tarefa mostrava-se ‘em desordem’?”¹

A Escola de Sargentos das Armas, do Exército Brasileiro, tem um patrono, e por incrível que pareça, é um sargento. Seu nome é Max Wolf Filho. Filho de pai alemão, Wolf alistou-se em Curitiba, aos 18 anos, no 15º Batalhão de Caçadores. Foi da Polícia Militar carioca por uma década e participou da Revolução Constitucionalista de 1932, combatendo os paulistas. No ano de 1944, alistou-se voluntariamente na Força Expedicionária Brasileira em São João del-Rei (MG). O sargento mantinha uma séria disciplina e competência militar destacando-se por liderar patrulhas de reconhecimento e por não deixar para trás os feridos, além de ser muito popular entre colegas da FEB e do V Exército dos Estados Unidos. Por seus atos de bravura na segunda guerra mundial, ganhou múltiplas condecorações.²

Subindo na hierarquia, mas descendo bastante na escala de heroísmo, o capitão Bolsonaro fez uma visita a um ex-combatente nonagenário da FEB. Não é preciso assistir ao vídeo para saber que há uma séria defasagem entre o que se faz e o que se fala neste governo. Desconexão entre discurso e realidade normalmente é a praxe entre políticos. Enquanto o circo pega fogo, eles se encarregam de vender a pipoca. Mas o novo bizarro nesta junta militar alcunhada de governo é o seu presidente títere de verve humorística que parece ter talento nato para cuspir na própria plateia.

Talvez não saiba o nosso venerável e iludido ex-pracinha que a nova Lei no13.954/2019 elaborada nos anteriores governos de esquerda e sancionada por Bolsonaro (alegado bastião tardio da direita), teve efeitos devastadores na vida dos veteranos e pensionistas, inclusive na de vários ex-combatentes que eram militares. Talvez ele não saiba, mas as pensionistas, graças à inépcia ou maldade dos generais de Bolsonaro, a partir de 2020 passaram a contribuir com quase 10% do pagamento e algumas tiveram cortado o direito ao atendimento de saúde. Por outro lado, os pobres generais, almirantes e brigadeiros ficaram 10% mais ricos… Tudo isso graças a uma canetada do nosso capitão…

Mesmo se não tivesse morrido na guerra, Max Wolf, que nasceu em 1911, provavelmente não teria a sobeja honra de receber a visita do atual Comandante-em-Chefe. Mas se por alguma arte da vida, chegasse a viver 118 anos (!), viveria para ver sua remuneração abatida, e se tivesse deixado herdeira, esta seria proibida de usar o serviço de saúde militar pelo qual ele teria pago em vida. Seria um herói de fachada, um garoto propaganda involuntário do governo, com uma faca cravada nas costas, gravada com o número 13.954.

Mas o colar de pérolas negras prossegue… Soubemos por denúncia que as Forças Armadas (claro que falamos aqui em alguns oficiais da sacratíssima cúpula, que na prática não representam a tropa) estão tão atoladas em tramas sombrias, que por ocasião da tramitação do PL 1645, “CORONÉIS estariam UNIDOS ao PCdoB em Luta Política contra o pleito da suboficialidade. Suboficiais informam que oficiais pediram ao PCdoB para barrar a tentativa de levar a disputa ao plenário da Câmara dos Deputados”4.

Solução para isso? Praça vota em praça! Certo!? A vida não é tão fácil: há testemunhas que dizem ter ouvido o deputado psolista Marcelo “esquerdopata” Freixo passar um sabão no deputado Hélio “bolsopata” Lopes (este que está vivendo seu primeiro e provavelmente único mandato), pois o estreante “devia apoiar o pleito dos sargentos, já que eles eram seus pares e base eleitoral”! O que aconteceu todos já sabem…

Para os que ultimamente advogam a romântica tese de que o Presidente da República é inocente do desprezo irracional e inexplicável para com os veteranos, e que ele estaria sendo manietado pelos malvados generais devotos do Aldo Rebelo, lembrem-se de que ele praticamente cita as Escrituras sagradas de arma em punho; autoridade maior de uma nação violentíssima, ele ameaça fisicamente jornalistas, para logo em seguida ser fotografado em alguma igreja em “atitude” de oração; amaldiçoa a politicagem tradicional e podre para meses depois lamber os sapatos de velhas raposas.

Enfim, o governo Bolsonaro, e todas as suas ramificaçoes… é caleidoscópico, muda conforme se olha. Apregoa fundamentos, mas é volátil como tudo que tem gana de poder. Mas ele tem uma espinha dorsal bem fundamentada e de raízes profundas, tem um ponto focal fixo nessa aparente metamorfose ambulante. E essa base, fundada desde a primeira hora, ainda dentro do Exército de  Caxias, chama-se traição.

SO RR FAB (ainda sem altos estudos) Reis

¹Praças em pé de guerra. O movimento político dos subalternos militares no Brasil, 1961-1964, de Paulo Eduardo Castello Parucker – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF Niterói, RJ – 1992





https://portalmilitar.com.br/2020/09/28/os-herois-esquecidos-e-o-governo-da-traicao/

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