Maria Boa
Maria Oliveira Barros, nascida em Remígio, cidade próxima a Campina Grande, em 24 de junho de 1920. Na grande cidade, a jovem menina ajudava seu pai vendendo seus produtos na feira. Conta-se que desse período ganhou o apelido de Boa. Dizem que por ser muito gentil com os clientes, outros pelos seus belos atributos físicos. O apelido ganhou ódio eterno de seu pai, mas atraiu os olhares dos jovens campinenses. Os rapazes passavam na barraca apenas para vê-la e ela acabou engraçando-se com um dos rapazes. Este a seduziu e tomou-lhe a virgindade. O pai de Maria exigiu o casamento em reparação. O moço, no entanto, recusou-se. Preferia casar com menina de melhor família. Maria se viu abandonada pelo namorado. E o pai a expulsou de casa.
Foi então morar em João Pessoa, por volta de 1935, onde trabalhou em uma tipografia, servindo de secretária. Mas não demorou muito para ganhar a vida como prostituta. A forma como ela chega a Natal é contada de maneira confusa pelos seus cronistas. Gomes de Melo, por exemplo, afirma que ela já trabalhava num bordel quando Madame Georgina, dona da Boate Estrela em Natal, soube de sua beleza e foi buscá-la. A estreia de Maria Boa, no Estrela, foi um grande espetáculo. Madame Georgina não poupou no vestido, nem nas jóias, nem nas músicas para apresentá-la aos seus clientes.
Nessa noite, ela conheceu um proprietário de um engenho e funcionário público, que se apaixonou por ela. Passou a sustentá-la e visitá-la semanalmente no Estrela. Meses depois, Maria engravidou. O amante quando soube que ela estava grávida, chutou-lhe o ventre, o que causou-lhe um aborto. Ela ficou muito abalada e afastou-se do Estrela, rompendo com Madame Georgina.
Porém, na década de 1940, sua visão empreendedora, percebeu que Natal não possuía um lugar em que os homens da cidade pudessem se divertir, apreciar música e teatro, beber e conversar, além de terem mulheres bonitas e elegantes. Ela resolveu então abrir um cabaré. Essa é a diferença de um cabaré para um bordel. Ele não se trata apenas da prostituição, ele é um espaço de apresentações musicais, principalmente teatro de revista, e de socialização dos rapazes da cidade. Com a chegada dos americanos, com a Segunda Guerra, Maria Boa sabia que esse público pagaria caro por esse tipo de divertimento na cidade. Ela então, em sociedade com um amigo, abriu na rua Mermoz, na Cidade Alta, o seu empreendimento.
Maria Boa exigia educação de suas garotas, inclusive, comprava livros e pagava ingressos para as meninas para o teatro e concertos, não era incomum que vê-la com suas garotas em exposições de arte. Elas eram trazidas de outras cidades e escolhidas pela sua beleza, elegância, mas também pela sua inteligência. As mulheres do cabaré de Maria Boa deviam saber entreter os homens com conversas inteligentes, inclusive para mantê-los o mais tempo possível consumindo os pratos e bebidas servidos no bar, antes deles encerrarem a noite nos quartos.
O ambiente que ela criou fez sucesso. Tanto entre os potiguares, quanto entre os americanos que chegavam na cidade.
Vários fatos envolveram a personagem, mas um episódio muito comentado foi a pintura realizada pelos militares em um avião North American B-25J "Mitchell", que eram operados na Base Aérea de Natal a partir de 1947. O B-25, um dos mais famosos aviões da 2a Guerra Mundial, eram identificados com cores características de cada Base Aérea. Os anéis de velocidade das máquinas voadoras da Base Aérea de Salvador eram pintados com a cor verde. Os aviões de Recife, com a cor vermelha, e os de Fortaleza, com a cor azul. Para a Base de Natal, que operava os B-5J no Esquadrão Rumba, o 1°Esquadrão do 5° Grupo de Aviação, foi convencionada a cor amarela.
Os responsáveis pela manutenção dos aviões em Natal imaginaram também que deviam ser pintados no nariz do avião, ao lado esquerdo da fuselagem junto ao número de matricula, desenhos artísticos de mulheres em trajes de praia. Autorizada pelo Parque de Aeronáutica de São Paulo, a idéia foi colocada em prática. Pouco tempo depois, os B-25 de Natal surgiram na pista com caricaturas femininas e alguns até com nomes de mulheres. Alguns militares da Base escolheram o B-25 (5071), cujo desenho se aproximava mais da imagem de Maria Barros. Outras aeronaves também receberam nomes como “Amigo da Onça” e “Nega Maluca”.
Quem custou a acreditar neste fato foi a própria Maria. Até que alguns tenentes decidiram levá-la até à linha de estacionamento dos B-25 logo após o jantar para não despertar a atenção dos curiosos. Ela constatou o fato. As lágrimas verteram de seus olhos quando viu à sua frente, pintada ao lado do número 71 e abaixo do cockpit do piloto, a inscrição “Maria Boa”.
A grande "DAMA DE NATAL", infelizmente deixou este mundo em 22 de julho de 1997, devido a um AVC, e quase 30 dias após ter completado 77 anos de idade.
Quanto ao destino do FAB 5071 a última referência dele é na própria FAB. Em 22 de março de 1967, em boletim normativo, o Ministério da Aeroráutica determinou a desativação progressiva dessas aeronaves. À época, existiam 16 aviões B-25 espalhados em várias unidades, dos 83 adquiridos pelo Brasil, sendo 29 aviões recebidos durante a guerra e mais 64 após. Na Base Aérea de Natal (BANT), as aeronaves operaram no 5º Grupo de Aviação (5º Gav) entre 1947 e 1960, e na Esquadrilha de Adestramento entre 1943 e 1966.
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