Em entrevista ao BSM, Hugo Hoeschl faz uma lista de questões que ainda não foram respondidas pelas autoridades eleitorais.

 Em entrevista ao BSM, Hugo Hoeschl faz uma lista de questões que ainda não foram respondidas pelas autoridades eleitorais. “Um sistema público não pode ser imune a críticas”, diz pesquisador

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Especialista em voto eletrônico sugere CPI para investigar eleições

Em 2018, duas pesquisas atestaram que a enorme maioria dos brasileiros não confiam plenamente no nosso sistema de votação.

Uma pesquisa da Avast, empresa de segurança tecnológica, constatou que 91,84% dos brasileiros acreditam que as urnas eletrônicas podem ser fraudadas.

Na mesma época, pouco antes do pleito presidencial, um outro escrutínio, este feito pelo jornal El País, publicação de esquerda, chegou a resultado muito semelhante: só 10% dos entrevistados disseram “confiar muito” no sistema de votos eletrônicos.

Quer dizer, embora as autoridades públicas e a grande mídia insistam em afirmar que nosso modelo eleitoral é o que há de mais perfeito no mundo, taxando de conspiracionista quem quer que o questione, a percepção do cidadão, do eleitor, é de que, sim, nosso sistema é duvidoso, dá margem à dúvidas e não só pode como deve ser questionado.

É por essa postura prudente que advoga o pesquisador especialista em dados eleitorais Hugo Hoeschl.

Em entrevista ao BSM, Hoeschl foi cauteloso em apontar alguma irregularidade no pleito do último domingo — como se tem aventado nas redes sociais —, mas elencou uma série de perguntas que precisam, urgentemente, ser respondidas pelo poder público:

“1. Houve problema de hardware, de software ou de serviço? Ou seja: o problema foi no supercomputador, foi no software de inteligência ou foi no suporte dos fornecedores?

2. Houve ou não um ataque hacker? Caso positivo, quais as suas dimensões?

3. Os operadores do sistema consideram um evento de acessos massivos para denegação de serviço como um ataque? É importante ter isso claro.

4. Do ponto de vista técnico, quais foram as providências adotadas para se prevenir contra esse tipo de ataque ou tentativa de ataque?

5. Por que houve um lapso de tempo tão expressivo entre a totalização e a divulgação dos dados? Teve relação com a "tentativa" de ataque hacker, ou foi outro problema que ocasionou esse atraso?

6. Os operadores do sistema detinham em suas mãos os resultados, mas eles não estavam sendo mostrados ao público por impossibilidades técnicas?

7. Havendo a comprovação de tráfego digital malicioso vindo de ambientes internacionais, é de se indagar que tipo de providências foram e estão sendo tomadas em termos de defesa da soberania nacional. Os operadores do sistema eleitoral estão compartilhando e repassando isso para as autoridades que detém a atribuição constitucional de defesa da soberania nacional?

Todos os fatos citados são públicos e deixam dúvidas sobre a eficiência técnica e integridade tecnológica do processo eleitoral”, completou.

Sobre possíveis irregularidades, Hoeschl não tem uma resposta definitiva, uma vez que ainda está coletando informações de todas as seções eleitorais. Não obstante, o analista critica o fato de que o nosso modal não disponibiliza provas materiais que comprovem o resultado indicado eletronicamente:

“Estamos aguardando todos os boletins de todas as seções eleitorais para analisar os dados e realizar provas estatísticas sobre a integridade dos universos numéricos.

Lamenta-se que o atual sistema eleitoral não permita uma conferência física dos votos. Seria transparente e democrático ter um resultado preliminar, eletrônico, mas com uma confirmação posterior dos votos físicos. Dessa forma haveria o melhor dos dois mundos: a velocidade tecnológica somada à segurança e possibilidade de verificação física”.

Quanto ao tratamento hostil dispensado pelas autoridades competentes e pela grande imprensa àqueles que estão levantando dúvidas sobre a lisura do certame, Hoeschl diz o seguinte:

“As críticas precisam ser recebidas com naturalidade. Um sistema público não pode ser imune a críticas. Elas fazem parte do processo de evolução do sistema.

É muito positivo que existam veículos que se preocupem em investigar o que está acontecendo, e é muito importante que investiguem os fatos para além dos pronunciamentos dos agentes públicos.

As dúvidas sobre o processo de domingo derivam de fatos públicos e notórios. O sistema ficou travado por horas sem atualizações, eliminando a possibilidade de que a população pudesse acompanhar a evolução da carga dos dados em várias cidades, o que atenderia mais adequadamente aos princípios de publicidade, transparência e eficiência da administração”.

E então, o especialista vai além e sugere que as perguntas sobre possíveis falhas no sistema eleitoral, pergunta, que, conforme as pesquisas, pairam na mente da esmagadora maioria dos brasileiros, sejam respondidas por um órgão independente, e não pelo próprio TSE. Ele propõe uma CPI das Eleições:

“Seria muito proveitoso que essas questões, e outras, fossem respondidas em instâncias independentes. Como se sabe, é difícil avaliar um resultado de um processo de cuja produção se participou.

Para maior transparência, efetividade e segurança, melhor seria que tudo isso fosse avaliado em uma instância externa aos organismos que realizam as eleições. O ideal é se criar uma CPI para avaliar e dirimir todas as questões. Não só sobre os fatos de domingo, mas também sobre os questionamentos de 2018 e de 2014. E também sobre os contratos que estão sendo discutidos agora, tanto sobre o fornecimento das urnas, quanto dos serviço prestados, do fornecimento desse supercomputador, do desenvolvimento do software de inteligência, dos dispositivos de intercomunicação entre o banco de dados de totalização e o banco de dados de publicação dos dados, e os respectivos processos licitatórios. Bem como sobre a aplicação das verbas publicitárias para os grandes veículos de comunicação”.

Essa ideia de se criar uma CPI para investigar o processo eleitoral Hoeschl traz de longa data.

Ele a propôs, de primeiro, em 2015, junto com várias outras pessoas. À época, a opinião pública voltou-se para a segurança das urnas após a vitória de Dilma Rousseff sobre o tucano Aécio Neves, grande favorito naquela disputa.

Como a ideia não prosperou, ele continuou pesquisando sobre as possíveis brechas no sistema eletrônico de votos e, em 2018, participou de um programa da Brasil Paralelo denunciando, com base numa matéria da Fox News, chancelada por informações do Departamento de Estado Americano, um tráfego suspeito de dados vindo da Venezuela, de Cuba, do Irã e da Síria.

Mas, ao invés de o assunto ensejar um amplo debate público, inclusive sobre a segurança nacional, o resultado foram ataques da imprensa e o silêncio das autoridades competentes.

Hoje, porém, o analista vê mais chance de a CPI vingar uma vez que já foi instalada a Frente Parlamentar pela Contagem Pública dos Votos, presidida pelo deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ):

“Acredito que essa Frente possa ser o embrião da CPI. Foram mais de 200 assinatura coletadas. Portanto, é de se imaginar que essas assinaturas possam derivar para uma CPI”.

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