Sou péssimo desenhista e escritor ruim. Então, vou usar a "menos pior" das minhas habilidades e descrever o desenho da última terça-feira, 02/07/2019.
Brasília teve o dia cheio. Às 14:00 começou a desnecessária
(por motivos óbvios), audiência do ministro Sérgio Moro. Por volta das
16:00, em sala adjacente à audiência, passou a se fazer a leitura do relatório
da Comissão Especial da Nova Previdência.
Todas as atenções da tarde se voltaram para a audiência e
quando começou a sessão da Comissão Especial da Nova Previdência, elas ficaram
praticamente divididas entre as duas.
A própria TV Câmara, que consegue transmitir por dois
canais, direcionou suas câmeras, profissionais e recursos para cobrir os dois
eventos, que mesmo sem ser aferido pelo Ibope, tiveram mais audiência do que os
canais de TV no horário, a se verificar pelos índices de comentários nas mídias
sociais.
Em paralelo aos dois eventos transmitidos, acontecia em
outra sala de audiências do Congresso, o evento mais importante e menos coberto
pela mídia e por todos nós: o interrogatório de Antônio Palocci, o amigo e
confidente do amigo do meu pai e responsável pela articulação para alçar ao
Supremo Tribunal Federal o amigo do amigo do meu pai; numa paráfrase à forma
como Marcelo Odebrecht se referia à parte da gangue de marginais da qual fazia
parte.
Somente hoje, quinta feira, 04/07, me dei conta do quão
inocente eu sou. Como dizia o sábio Tom Jobim, "o Brasil não é para
principiantes". E agora percebo que, de fato, perto da inteligência
persistentemente voltada para o mal do Mecanismo, sou mesmo aos 62 anos um
idiota pueril... Mas, o que mais eu lamento, é que não sou o único.
Pelo menos, nas mídias sociais e grupos de WhatsApp
engajados na defesa, não de um presidente, mas de um país, ninguém se deu conta
do quão fácilmente enganados nós fomos, ao gastar (ainda hoje!), tempo, energia
e dedos nos posts de comentários e defesas desnecessárias dos moros,
previdências e outras questões periféricas. Enquanto todos ficávamos surpresos
e indignados com estes temas, com o Cavalo de Tróia instalado em nossas salas pela
tv e/ou na frente dos nossos olhos pelas telinhas dos tablets e celulares, o
que realmente importava passava batido.
E qual não foi minha surpresa ao ler nessa manhã uma
nota do site O Antagonista dizendo que Palocci confessou e comprovou na CPI do
BNDES o desvio de cerca de US$ 150 bilhões (R$ 500.000.000.000,00 - com todos
os zeros para se ter a dimensão do tamanho do roubo) a mando do molusco 9
dedos. E ninguém postou uma linha, uma letra sequer de indignação com
isso.
Óbvio que não dava para esperar nada diferente do que o
silêncio por parte da grande mídia comprada e comprometida com o projeto de
poder que o povo de bem depôs em outubro/18. Mas nem a mídia imparcial, nem a
parcial de direita, nem as redes sociais ou Youtubers, sempre ativos e atentos,
nem os grupos de WhatsApp engajados na defesa do país, ninguém se apercebeu do
quadro desenhado na terça. Nem da cortina de fumaça.
Para quem achava que o mensalão era o maior roubo da
história ou que o Petrolão era o maior do mundo, Palocci e seu depoimento não
assistido, nem acompanhado por nós, fez com que o Petrolão virasse
cafezinho e o mensalão a gota do adoçante, perto do BeNeDEStão.
E todos nós caímos de gaiato na esparrela da última
terça-feira. Enquanto ficamos comentando, discutindo e fazendo eco às
babaquices e encenações da audiência do Moro, ou aos discursos vazios do
relatório da comissão especial da previdência, ninguém acompanhou o fato
mais importante daquela terça em Brasília: o depoimento do Palocci na CPI do
BNDES. Entramos todos de gaiato no navio.
Eu sou mesmo uma ameba, idiota e imbecil de não ter
percebido a jogada do Mecanismo. E o triste é que não estou sozinho nesta
categoria na qual me inseri.
Autor: Elcio Moraes, cidadão brasileiro. Jampa - PB
(Jampa é João Pessoa, para os íntimos).
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