Cronologia de um plano (quase) perfeito ...
*2018*
1. Gilmar Mendes é intimado, em novembro, pela Receita Federal para prestar
informações sobre questões fiscais.
2. Em vez de responder à intimação como qualquer outro contribuinte, Gilmar
resolve procurar o chefe do órgão, Jorge Rachid, para obter mais informações.
3. Jorge Rachid (descumprindo o sigilo a que estava obrigado) diz a Gilmar que
o auditor responsável pelo caso estava prestando serviços à Operação Calicute,
do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, responsável por prender, entre
outros, Jacob Barata, o Rei do Ônibus, que foi solto por Gilmar Mendes.
4. Gilmar Mendes começa, então, a investigar a investigação. Utilizando-se da
influência que tem e de canais dentro da Receita (Jorge Rachid?), consegue
acesso a um documento ultra mega hiper reservado – a Nota Copes 48/2018, que
apresenta resultados do trabalho da Equipe Especial de Combate a Fraudes
Tributárias da Receita Federal, da qual Gilmar era alvo.
5. Por algum “erro” grotesco, cuja probabilidade de ocorrência é menor do que a
de dois raios caírem no mesmo lugar, é aberto o sigilo do dossiê com o
procedimento fiscal envolvendo Gilmar Mendes. Os documentos sigilosos da
investigação chegam às mãos do investigado.
6. De posse desses documentos – o dossiê de investigação e a Nota Copes 48/2018
– Gilmar inicia a articulação para atacar a Receita Federal e, por via
transversa, a Lava Jato.
*2019*
7. Jorge Rachid é substituído no comando da Receita Federal no início de
janeiro. Ele e seu grupo demonstram grande insatisfação por terem perdido o
controle do órgão.
8. Gilmar Mendes planeja meticulosamente os vazamentos. No dia 8 de fevereiro,
ele vaza para a coluna Radar, da Revista Veja, o primeiro documento: o dossiê
fiscal a respeito de si próprio. A partir da “revelação”, Gilmar vai para os
meios de comunicação atacar o órgão e a Lava Jato, dizendo-se perseguido.
9. Quatro dias depois, no dia 12 de fevereiro, vaza a Nota Copes 48 no site
Conjur (cujo proprietário, Márcio Chaer, é amigo íntimo de Gilmar Mendes, tendo
sido inclusive um dos responsáveis por sua reaproximação de Guiomar Mendes
durante um tempo em que estiveram separados). O vazamento da Nota Copes é golpe
de mestre pois desperta a solidariedade instantânea de ministros do STF e
parlamentares: ela alude a uma lista de 134 agentes públicos “graúdos” que
apresentaram indícios de irregularidades fiscais e, eventualmente, criminais.
10. O Conjur, na matéria, ataca frontalmente a atuação da Receita no episódio,
alegando que houve extrapolamento de atribuições e “provavelmente houve ainda a
violação das prerrogativas de foro”. Importante lembrar que Gilmar Mendes já se
valeu do Conjur para atacar de maneira sórdida Joaquim Barbosa, quando este
deixou o STF.
11. No dia 24 de fevereiro, o Estadão divulga que Gilmar Mendes iniciou uma
articulação no Congresso para aprovar projeto de lei limitando a atuação da
Receita Federal. Se concretizada, a mudança poderá causar impacto no modo como
a Receita tem cooperado com grandes investigações de combate à corrupção e
lavagem de dinheiro, a exemplo da Operação Lava Jato.
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