O brutal assassinato do garoto Rhuan e a indiferença ideológica da imprensa - por João Paulo Resende



Pênis mutilado, esfaqueado, decapitado e esquartejado. O assassinato de Rhuan, 9 anos, certamente é um dos crimes mais bárbaros na história recente do país. No entanto, parece não receber atenção proporcional da imprensa.
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A manipulação pelos órgãos de mídia não ocorre apenas de forma ativa ao escolher determinado tipo de conteúdo e uma respectiva abordagem específica para transmiti-lo. Manipula-se também de modo dissimulado ao omitir determinados casos ou não os relatando de forma integral.
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É o que parece estar acontecendo com o cruel assassinato de Rhuan. Alguns aspectos do caso possuem correlação com determinados aspectos de pautas positivamente apresentadas pela imprensa, como a ideologia de gênero e o feminismo. Portanto, divulgar o caso seria propaganda negativa devido à correlação que eventualmente fosse feita pelo expectador / leitor.
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Rhuan foi esfaqueado enquanto dormia. Posteriormente, foi decapitado e esquartejado pela mãe e por sua companheira. Houve a tentativa de queimar as partes do cadáver em uma churrasqueira. Por fim, o corpo foi colocado em bolsas que seriam abondanadas.
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O menino era vestido com roupas femininas e mantido com cabelos longos. Um ano atrás, as mulheres deceparam seu pênis de maneira rudimentar em casa e costuraram a fim de improvisar um órgão sexual feminino, como em uma cirurgia de mudança de sexo. Segundos elas, fizeram isso porque o menino queria ser "menina".
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As mulheres fugiram do Acre em 2015 cada uma com seu filho. Além de Rhuan, vivia com elas a filha da companheira, uma menina de 8 anos que assistiu ao crime brutal. A menina não se aproxima de homens, pois foi ensinada que eles são maus e a machucariam se tivessem oportunidade.
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As duas crianças eram obrigadas pelas mulheres a manterem relações sexuais entre si. Ambas eram maltratadas, mantidas em cárcere privado e não frequentavam a escola.
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Desde 2015, os pais não têm contato com os filhos. As criminosas passaram por várias cidades e nunca disseram onde estavam. Várias tentativas de localizá-las, inclusive por meio de órgãos públicos, foram adotadas sem sucesso.
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Outros crimes com muito menos requintes de crueldade foram manchetes e alvos de reportagens por vários dias. Nada disso aconteceu com o caso narrado, que não recebeu adequada cobertura tampouco destaque.
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Só resta pensar que a indiferença dos meios de comunicação mais influentes seja devido a seus interesses ideológicos. Que outro motivo poderia haver para ignorar um caso tão macabro? Apenas a masculinidade pode ser tratada como tóxica e violenta. Rhuan virou mera estatística.
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Imagem: Mãe de Rhuan e sua companheira presas pelo assassinato (Polícia Civil do DF / Divulgação)
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Fontes:
- Portal UOL - 


Rhuan Maycon, menino que foi esquartejado, teve pênis cortado há um ano


Em Samambaia, uma garota de oito anos vivia uma rotina de medo. Sem ir à escola há pelo menos dois anos, ela saía de casa apenas para ir à igreja. Dentro da residência, tinha pouca liberdade e os sinais de maus-tratos eram visíveis. O sofrimento chegou ao fim na manhã de ontem, quando a pequena conseguiu reencontrar o pai, o servidor público Rodrigo Oliveira, que a procurava havia cinco anos. Ele ficou sabendo do paradeiro da filha após a morte do irmão de criação dela, Rhuan Maycon, de 9 anos, que foi assassinado pela própria mãe, Rosana Auri da Silva Candido, 27, e pela companheira dela, Kacyla Priscyla Santiago Damasceno, 28, mãe da menina.

Kacyla fugiu com a filha de Rio Branco, no Acre, em 2014, junto com Rosana e Rhuan. Eles passaram por dezenas de endereços, como Trindade (GO), Goiânia (GO) e Aracaju (SE), até chegar ao Distrito Federal. Há dois meses, moravam em Samambaia, na casa onde o garoto foi assassinado e esquartejado. Ainda não se sabe se a garota viu o momento da morte de Rhuan, mas, ao chegar à delegacia, ela fez um desenho de um corpo ensanguentado com os órgãos de fora. Aos investigadores da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte), as mulheres disseram que a menina dormia na hora do crime.  

De acordo com o Conselho Tutelar da região, as duas crianças eram maltratadas pelas acusadas e obrigadas a manterem relações sexuais entre elas. Viviam em cárcere privado, segundo constataram agora os conselheiros. No abrigo, a garota agradeceu pelas refeições e informou que só comia pão havia três dias. Há cerca de um ano, Rhuan teve o pênis cortado pelas mulheres. O procedimento foi feito em casa e, desde então, ele não foi a uma unidade de saúde. Aos agentes, as acusadas contaram que o menino queria ser uma garota e, por isso, o teriam mutilado. 

Rodrigo Oliveira, pai da filha de Kacyla, desembarcou no Aeroporto Internacional de Brasília às 8h30 de ontem. Em seguida, foi à delegacia, em Samambaia, para se reunir com o delegado e com representantes do Conselho Tutelar. Poucos minutos depois, seguiu para o abrigo onde a filha estava, em Taguatinga. Bastante agitada, com pés ressacados, cortes na cabeça e ferimentos no pescoço, a pequena, finalmente, conseguiu reencontrar o pai. Emocionado, ele não teve condições de conversar com a equipe do Correio. “Consegui achar minha filha por causa de uma tragédia. Não é o momento ideal para falar sobre o assunto”, lamentou. 

Preventiva 

Rosana e Kacyla passaram por audiência de custódia na manhã de ontem. Ambas tiveram a prisão preventiva decretada e foram encaminhadas à carceragem do Departamento de Polícia Especializado (DPE). Esta semana, serão levadas à Penitenciária Feminina do Distrito Federal. “Elas responderão por homicídio qualificado, por motivo torpe, sem possibilidade de defesa da vítima, e por se tratar de um menor de 14 anos. A pena varia de 12 a 30 anos de prisão”, informou o delegado à frente do caso, Guilherme Sousa Melo.  

Ele acrescenta que as mulheres serão investigadas também por manter as crianças em cárcere privado e por lesão corporal. O investigador ressaltou que há suspeitas de que os meninos teriam sido agredidos em Goiânia (GO), um dos endereços usados pelas acusadas durante o período de fuga. Sousa Melo irá ao Acre na quarta-feira. “Vamos fazer um panorama externo das autoras e da vítima”.  

A filha de Kacyla também será monitorada nos próximos dias. Um agente da delegacia está escalado para acompanhar o caso da garota. Além disso, o Conselho Tutelar garantiu que acompanhará o processo, mesmo em outra unidade da Federação. O delegado ainda conversará, novamente, com o pai e com outros parentes da menina, no Acre. “Tudo já foi definido. Ao longo desta semana, entrarei em contato com todos familiares”, destacou. 

Velório

“Quero dar um enterro digno ao meu filho”, desabafou o pai de Rhuan, Maycon Douglas Lima de Castro, 27. Desempregado, ele se desesperou quando soube da morte do menino, e por não ter condições financeiras de fazer o transporte do corpo. No entanto, de acordo com o Conselho Tutelar, a Justiça do Acre arcará com as despesas do traslado. “Meu menino estava desaparecido. Fizemos de tudo para encontrá-lo. Eu nunca perdi minhas esperanças, até meu pai me chamar e me contar toda essa história. Ainda é difícil de acreditar”, se emocionou.  

Maycon contou que teve um relacionamento rápido com Rosana. “Ela morava na casa dos meus pais junto com Rhuan. Eu já estava separado dela havia cinco anos, quando decidimos pedir a guarda. Depois disso, ela sumiu. Toda vez que encontrávamos uma pista, a gente viajava atrás do meu filho”, lembrou. De acordo com ele, o desespero tomou conta da família quando o garoto sumiu. “Todo mundo era muito apegado, por isso, nunca desistimos de procurá-lo”, ressaltou.  

O homem tem mais dois filhos, de outro casamento. Sustentado pelo pai, ele tentou fazer uma vaquinha para pagar o transporte do corpo, antes de saber que receberia ajuda. “Quero trazê-lo para a terrinha dele, onde era feliz e brincava. Agora, está chovendo e isso só me lembra o Rhuan, que adorava tomar banho de chuva. Afinal, toda criança gosta”, disse Maycon, sem conseguir conter as lágrimas. 

O Conselho Tutelar informou que a filha de Kacyla continuará no abrigo por tempo indeterminado. Por estar há muito tempo afastada do pai e por causa do crime, ela ainda estava muito assustada no momento do reencontro. Equipes do órgão trabalharão para amenizar a situação. Rodrigo já tinha a tutela da filha, por isso, não há trâmites legais em relação a essa questão.

Barbárie


Rosana e Kacyla assassinaram Rhuan no fim da noite de sexta-feira. O garoto estava dormindo quando recebeu diversos golpes de faca. Em seguida, ele teve o rosto desfigurado, foi decapitado e esquartejado. As mulheres ainda tentaram queimar a carne dele em uma churrasqueira, para poder descartá-la em um vaso sanitário. No entanto, pararam por causa da grande quantidade de fumaça.  

Elas distribuíram as partes do corpo do menino em uma mala e duas mochilas escolares. Rosana jogou um dos itens em um bueiro de Samambaia, mas foi vista por pessoas que estavam na rua. Curiosos abriram o objeto e encontraram o corpo. A Polícia Civil foi acionada e prendeu o casal na residência. Os investigadores não descartam a possibilidade de que as acusadas fariam o mesmo com a garota filha de Kacyla, que estava dormindo quando os agentes chegaram. 

Palavra de especialista


Indícios de psicopatia

“Diagnóstico é algo muito difícil, depende de muitas avaliações. Porém, para mim, como psiquiatra e como pessoa, fica claro que uma atitude dessas é doente. E, quando a gente fala que a pessoa é doente, pensam que é uma coitadinha, e não é necessariamente o caso, por exemplo, quando se trata de psicopatas. É um caso gravíssimo, extremamente bizarro, e que precisa ser mais estudado. Infanticídio não é tão raro. Mas o quadro chama atenção por envolver, além de infanticídio, extrema brutalidade, com pré-amputação peniana.

Essas duas mulheres, em outros países, seriam sentenciadas à pena de morte ou à prisão perpétua. E, provavelmente, se forem inseridas novamente na sociedade, podem causar problemas. Chama a atenção o fato de, um ano antes, elas terem cortado o pênis do menino. Não foi um tapa, um chute, como em 99% dos casos. Tudo tende a nos levar a enquadrá-las para o lado da psicopatia.


Raphael Boechat, psiquiatra, doutor em ciências da saúde, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB)

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