DETERIORAÇÃO DE EXPECTATIVAS ASSUSTA INVESTIDOR


Sexta-feira, 17 de Maio de 2019
Por ROSA RISCALA (@rosa_riscala)*

... Sexta-feira de agenda fraca, sem impacto para os mercados, que operam descolados da melhora de humor lá fora, refletindo o desânimo com a inabilidade do governo para enfrentar as crises políticas, num cenário de grave preocupação com a economia. A rápida deterioração das expectativas já assusta investidores. A bolsa caiu com forte volume, mal conseguindo sustentar os 90 mil pontos, enquanto o dólar fechou acima dos R$ 4.

... É difícil saber a qual dos eventos Bolsonaro se referiu ao dar o alerta de tsunami, porque todo dia foi dia de ventania esta semana, com denúncias contra Flávio, protestos de estudantes e guerra com o Congresso.

... Sem contar os indicadores cada vez mais fracos, que já projetam um PIB negativo para o primeiro trimestre, no dia 30, e um crescimento pífio em torno de 1% para o final do ano, nas estimativas mais otimistas.

... Mesmo a perspectiva de aprovação da reforma da Previdência não está mais sendo suficiente para sustentar o otimismo. Muitos analistas já admitem que "só a reforma" não conseguirá recuperar o crescimento.

... A confiança do mercado financeiro está abalada e os desafios começam a ser vistos como grandes demais.

... O discurso de Bolsonaro, que voltou à fase raiz na defesa de sua agenda ideológica, contribui para esse baixo astral, à medida que ele não parece disposto a buscar soluções pragmáticas para os problemas.

... De Dallas, o presidente mandou um tweet dizendo que "jamais abrirá mão dos princípios fundamentais com os quais a maioria dos brasileiros se identificou, na nova forma de se relacionar com os poderes da República".

... Isso é o mesmo que dizer não vai se esforçar para melhorar a sua relação com o Congresso, ou colocar alguma coisa no lugar do toma-lá-dá-cá. Hoje, o que ele tem feito, e não está dando certo, é não ter relação nenhuma.

... Deixar as coisas correrem soltas, nas mãos dos deputados e senadores, é uma omissão que pode custar muito caro, sobretudo à agenda das reformas, com o espaço totalmente ocupado pelos "aliados" do Centrão.

... Em evento da Fitch, Alexandre Schwartsman disse que as "dificuldades políticas de Bolsonaro são reprise de Dilma com sinal trocado". Prevê que, se a reforma não trouxer uma grande economia, o governo acaba.

... O mercado ainda confia que Maia conduzirá com responsabilidade essa pauta, pela qual Guedes luta sozinho.

... Já na próxima semana, o Planalto terá de ceder na questão do Coaf, se quiser aprovar a MP 870, comprando uma briga com o seu partido, o PSL, que não quer abrir mão de manter o órgão com Sérgio Moro.

... Na Folha, a crise na Educação e as denúncias contra Flávio Bolsonaro deixam o governo Bolsonaro em situação ainda mais frágil e vulnerável às pressões. Ou recua ou a MP dos Ministérios caducará no dia 3/6.

... O mercado também tem se incomodado com a inépcia do presidente para lidar com temas como os protestos dos estudantes, avaliando que ele atiça o braseiro, ao confrontar os manifestantes como tem feito.

... Ou com a sua falta de sensibilidade para falar do drama do desemprego: "Essa população não tem como ter emprego, não está habilitada a enfrentar a indústria 4G (sic.) Tenho pena, mas não posso fazer milagre".

... Nesta 5ªF, dados do 1TRI divulgados pelo IBGE mostraram o tamanho do problema: 13,7 milhões de pessoas estão desempregadas e 28,3 milhões, subutilizadas - este, um recorde na série histórica iniciada em 2012.

... O presidente só mostra indignação com assuntos que lhe tocam diretamente, como as denúncias contra seu filho: "É um esculacho o que estão fazendo com ele. Venham para cima de mim, não vão me pegar!"

PETROBRAS - No início da noite, na live semanal, Bolsonaro voltou a falar da política de preços dos combustíveis.

... "O pessoal reclama da gasolina a R$ 5 (...), o preço é feito pela Petrobras; é lógico que, se a gente puder rever isso aí, sem prejuízo para a empresa, sem problema nenhum; às vezes, a política pode ter algum equívoco."

... Não pareceu uma nova interferência; de qualquer forma, o ministro Bento Albuquerque (MME), que estava ao seu lado, conseguiu corrigir o ato falho, que não deve ter maiores consequências no mercado hoje.

... "Os preços dos combustíveis só poderão ser reduzidos quando houver maior produção, quando não formos mais dependentes do petróleo, hoje ainda importamos grande quantidade de diesel, gasolina e até etanol."

... Ainda envolvendo a Petrobras, o presidente disse que pretende destinar R$ 2,5 bilhões de multas da Petrobras para o MEC, "em acordo com Raquel Dodge". O total contingenciado das faculdades é de R$ 1,7 bilhão.

... Os R$ 2,5 bilhões citados por Bolsonaro são parte dos valores recuperados pela Lava Jato, os mesmos que o Ministério Público queria para criar um fundo de combate à corrupção, contestado pela PGR e pelo TCU.

INFERNO ASTRAL - Sem o Congresso na mão, com o PIB parado e no ambiente de caça às bruxas, com Bolsonaro atirando para todo lado (estudantes, mídia e MP), tudo o que o mercado não precisava era de mais uma bomba.

... Os negócios, que já vinham mal nesta 5ªF, conseguiram piorar na reta final, assustados pela notícia de que a Vale advertiu sobre o risco de ruptura de mais uma mina em Minas Gerais, de Gongo Soco, em Barão de Cocais.

... O alerta de rompimento da barragem catalisou uma onda de vendas nas ações da mineradora (ON, -3,23%, a R$ 46,40), levou a bolsa a furar os 90 mil pontos na mínima (89.778,11) e extrapolou o estresse para o câmbio.

... Na rápida deterioração, o dólar correu até R$ 4,0416 na máxima intraday. Apesar de a moeda americana ter registrado comportamento misto contra as divisas emergentes, de novo, o Real teve o pior desempenho.

... O dólar voltou, assim, a registrar o pico de fechamento do ano, cotado a R$ 4,0357 (+0,98%). Desde o período pré-eleitoral, não rompia uma resistência tão alta. Com o sangue gelado, o BC ainda assiste em silêncio ao rali.

... No pessimismo simultâneo, o investidor projeta o dólar ao teto e a bolsa ao piso. Desperdiçando o alívio em NY (abaixo), o Ibovespa cravou ontem a pior marca de 2019, terminando aos 90.024,47 pontos, em queda de 1,75%.

A PROFECIA - Fazendo jus à fama da maldição de maio, o índice à vista acumula queda de 6,57% no mês e reduz a alta no ano a 2,43%. O giro financeiro acima das melhores médias, a R$ 17,4 bilhões, sinaliza o potencial vendedor.

... O investidor local não compra e o estrangeiro pula fora, com a percepção de risco político em níveis críticos.

... Os ruídos em Brasília desgastam as blue chips de forma generalizada. Petrobras falhou em acompanhar o ganho do petróleo e furou suporte na PN, caindo 2,36%, a R$ 25,27. O papel ON também não resistiu: -1,91%, a R$ 27,78.

... Enquanto isso, lá fora, o barril ampliava a alta, com a escalada da tensão entre EUA/Irã e sabotagem recente a dois petroleiros sauditas. O Brent (julho) subiu 1,18% (US$ 72,62) e o WTI (junho) ganhou 1,37% (US$ 62,87).

... No ano, os contratos acumulam ganho superior a 30%, com o cenário geopolítico e os cortes da Opep.

... Eletrobras reagiu mal (ON, -3%, e PNB, -2,58%) a relatos de que o general Mourão descartou a capitalização da estatal este ano e esvaziou ainda uma privatização, durante encontro com eletricitários esta semana.

... O setor financeiro voltou a cair em bloco na bolsa (BB ON, -3,12%, Bradesco PN, -1,17%, a R$ 32,85, e Itaú Unibanco PN, -1,29%, a R$ 31,44), com as polêmicas em série de Bolsonaro e as suspeitas que rondam a família.

... Liderando as baixas do dia, Gol PN desabou 7,41%, tendo o dólar alto como gatilho, já que tem mais da metade dos seus custos na moeda, por conta da compra de combustível, e endividamento exposto a variações cambiais.

... No ranking de altas, salvaram-se: Marfrig (ON, +7,87%), CSN (ON, +4,6%), JBS (ON, +3,09%) e BRF (ON, +1,71%).

ATÉ TU - Nos juros futuros, até mesmo os contratos mais curtos deixaram de lado as projeções de corte da Selic no segundo semestre, para fecharem em alta, acompanhando a dose de mau humor desta 5ªF difícil.

... Na sessão estendida, a curva incorporou ainda mais prêmio de risco com o nervosismo desencadeado pela Vale.

... A taxa do contrato de DI para janeiro/21 terminou a 6,94%, de 6,92% na etapa regular e 6,841% na véspera, janeiro/23 foi a 8,13%, de 8,12% (normal) e 8,002% (véspera), e janeiro/25 fechou a 8,74%, de 8,72% e 8,61%.

... Não para de crescer a lista de grandes bancos a revisar em baixa as expectativas para o PIB e Selic. Ontem, foi a vez de o BofA cortar à metade a previsão de crescimento da economia este ano, de 2,4% para 1,2%.

... A estimativa está agora muito próxima do Itaú (1%) e Bradesco (1,1%). A instituição norte-americana ainda foi mais uma a desistir de apostar na estabilidade do juro, em 6,5%, para passar a projetar um corte para 5,5%.

... Imune à pressão do mercado, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou ontem, em audiência pública em comissão do Congresso, que a instituição não vai afrouxar o controle da inflação em troca de um PIB melhor.

... Hoje, ele estará em SP, para encontro com executivos da XP Investimentos, Cielo e B3.

MAIS AGENDA - À primeira hora do dia (5h) sai a prévia do IPC-Fipe e este é o único destaque doméstico.

... Lá fora, saem a leitura final do CPI de abril da zona do euro (6h), a preliminar de maio do sentimento do consumidor medido pela Universidade de Michigan e os indicadores antecedentes de abril dos EUA, ambos às 11h.

... À tarde (14h), a Baker Hugues informa o número de poços e plataformas norte-americanas em atividade.

... O vice-presidente do FED, Richard Clarida, participa de evento às 14h40. Antes (13h), fala John Williams (vota).

... Em Bruxelas, os ministros de Finanças da UE (Ecofin) se reúnem nesta 6ªF.

NUMA NICE - Nem a assinatura do decreto por Trump que impõe restrições ao uso de equipamentos produzidos por países considerados "adversários externos" foi suficiente para trazer de volta os fantasmas da trade war a NY.

... Operando agora em stand-by, à espera da nova rodada de negociações comerciais entre os EUA e China, prometida para o mês que vem, as bolsas em NY desviaram a atenção para os indicadores e noticiário corporativo.

... Os índices de ações americanos completaram o terceiro pregão consecutivo no azul, perto de devolverem integralmente o tombo observado na última 2ªF, quando as investidas protecionistas despertaram o pessimismo.

... Com balanços acima do esperado, a Walmart (+1,43%) e Cisco (+6,6%) foram as estrelas do dia, levantando o astral: Dow Jones subiu 0,84%, a 25.862,68 pontos, S&P, +0,89% (2.876,32 pts), e Nasdaq, +0,97% (7.898,05 pts).

... Na agenda dos dados econômicos, os pedidos de auxílio-desemprego surpreenderam positivamente (212 mil, quando se esperava 220 mil) e a construção de moradias iniciadas em abril (+5,7%) superou a previsão 5,4%.

... O mercado continua botando pressão para o FED cortar o juro, pelo menos, uma vez até o final do ano (apostas já estão em 73%), com a inflação rodando em níveis fracos nos EUA e a economia começando a responder bem.

... No ambiente de risk-off, ontem, a segurança dos Treasuries foi desprezada pelos investidores, projetando o yield da Note de dez anos a 2,3944%, de 2,3732%, e também a proteção do iene (109,82/US$) foi dispensada.

... Com o dólar fortalecido pela rodada dos indicadores positivos, players venderam o euro (US$ 1,1176). Ainda a libra caiu (US$ 1,2793). Informações de bastidores revelam que Theresa May já prepara a sua sucessão.

... Caso o Brexit seja rejeitado na próxima votação (3/6), a premiê renunciaria antes de 15/6, segundo fontes.

EM TEMPO... CEMIG recebeu proposta de grupo chinês para compra da usina hidrelétrica de Santo Antônio (RO)...

... "A proposta é para adquirir o controle, mas a negociação está parada", disse o diretor de Finanças e RI.

CPFL RENOVÁVEIS. Aumento de capital por subscrição de sobras somou R$ 300,173 milhões.

ALUPAR. Aneel aprovou compra de 49% de fatia societária em transmissoras TME e AETE.

USIMINAS fechou aditivo a acordo com a Unigal e Nippon Steel sobre pagamento por galvanização de bobinas.

PETROBRAS. Anelise Lara (Refino e Gás Natural) acumulará diretora de Relacionamento Institucional por 30 dias.

SUZANO informou que a Mondrian Investment Partners reduziu a participação no capital para 1,57% do total.

TOTVS. AGE aprovou o aumento do limite do capital autorizado para até R$ 2,5 bilhões...

... Com isso, a companhia diz que pode dar continuidade à oferta pública de distribuição primária (follow on).

CCR. O diretor de Negócios, Paulo Cesar de Souza Rangel, renunciou ao cargo. Fabio Côrrea Russo assume.

CAMARGO CORRÊA venceu licitação milionária para construir a extensão de um trecho do metrô em Salvador...

... É o primeiro grande contrato de obra pública do grupo, após seu envolvimento na Lava Jato.

OMEGA GERAÇÃO. Conselho aprovou a realização de emissão de debêntures simples de R$ 810 milhões.

AVIANCA conseguiu liminar exigindo manutenção de 60% do serviço da empresa durante greve prevista para hoje.

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