Militar investigado por tráfico internacional de drogas em aviões da FAB é funcionário de gabinete do vice-governador do DF
Jorge Luiz Cruz da Silva atua como assessor especial; ele é suspeito de recrutar outros militares como 'mulas' para esquema. Paco Britto informou que vai exonerar servidor; G1 tenta contato com defesa do sargento.
O militar da Aeronáutica suspeito de envolvimento no esquema de tráfico internacional de drogas em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) é funcionário do gabinete do vice-governador do Distrito Federal, Paco Britto. A informação foi confirmada ao G1 pelo Palácio do Buriti.
A Polícia Federal trabalha com a suspeita de que o sargento Jorge Luiz Cruz da Silva seja o responsável pelo recrutamento de militares como "mulas" para usar as aeronaves com fins ilícitos. A reportagem tenta contato com o militar e com a defesa dele.
Por meio de nota, no início da manhã, o governo do DF informou que Paco Britto "já tem conhecimento do fato" e que vai decidir o que fazer "após conversar com o servidor'". No portal da transparência da capital federal, Jorge aparece no cargo de "assessor especial" e tem salário bruto de R$ 8.246.
ATUALIZAÇÃO: após a publicação da reportagem, a assessoria de imprensa do governo do DF informou, em nota, que Paco Britto assinou a exoneração do militar. De acordo com o texto, o ato será publicado no Diário Oficial do DF. "O servidor será exonerado para que todos os fatos sejam apurados. Luiz Cruz era servidor da Secretaria de Esporte do DF antes ser transferido para o gabinete do vice-governador”, informou.
O servidor foi nomeado em maio do ano passado, portanto, quase um ano após a prisão do sargento Manoel Silva Rodrigues, detido na Espanha em junho de 2019, com 39 quilos de cocaína em avião da FAB (relembre abaixo).
A investigação faz parte da operação Quinta Coluna, deflagrada nesta terça-feira (2). A Polícia Federal apura suposto esquema em que as aeronaves oficiais eram usadas para traficar drogas. Além disso, há indícios de lavagem de dinheiro por parte da associação criminosa.
Mandados
Na terça, os agentes cumpriram 15 mandados de busca e apreensão e dois que restringem a comunicação dos investigados. Os alvos também foram impedidos de deixar o Distrito Federal, por determinação judicial.
A TV Globo teve acesso à decisão judicial que autorizou o cumprimento de 15 mandados de busca e apreensão para aprofundar as investigações desse caso. Na decisão, a juíza Pollyana Kelly Alves reproduz trechos das investigações da PF ao autorizar busca e apreensão em vários endereços de alvos desse inquérito.
A juíza relatou a investigação sobre Jorge Luiz da Cruz Silva e o suposto envolvimento dele no caso do sargento Manoel Silva Rodrigues.
"Afirma a existência de indícios de que Jorge Luiz da Cruz Silva, possivelmente, recrutou militares da FAB para o transporte de substâncias ilícitas", diz o despacho.
No mesmo documento, a magistrada reproduz informações da PF sobre um colaborador anônimo detalhou o que seria a atuação do sargento.
O documento cita que "segundo informações repassadas por colaborador anônimo que descreveu o modus operandi do esquema criminoso, Jorge Luiz da Cruz Silva seria a pessoa responsável pela indicação de militar da FAB que recrutaria 'mulas' para o transporte de substância entorpecente".
A juíza reproduz na decisão que o colaborador é anônimo mas que a PF afirma ter checado criteriosamente tudo o que ele disse, citando as diligências tomadas para isso.
Com isso, concluiu que Jorge Luiz da Cruz Silva está possivelmente envolvido "nos eventos criminosos de transporte de substância entorpecente do Brasil para Europa em conjunto com Manoel Silva Rodrigues".
Além disso, ela explicou que a busca e apreensão se justificam "como meio indispensável ao aprofundamento das investigações mediante a colheita de provas da prática criminosa, possibilitando, com isso, o acertamento da autoria e da materialidade do crime”.
Por causa dos indícios de materialidade e autoria delitivas, proibiu que o sargento Jorge Luiz da Cruz Silva mantenha contato com outros investigados. A mesma medida foi determinada para Wikelaine Nonato Rodrigues, mulher do sargento que está preso na Espanha. A PF e o MP pediram as prisões dos dois, mas a juíza negou.
Droga apreendida
Em junho de 2019, Manoel foi detido no aeroporto de Sevilha por transportar 39 kg de cocaína na bagagem de mão. A droga estava em pacotes de um pouco mais de 1kg. O entorpecente foi detectado por agentes espanhóis.
No ano passado, o militar fez um acordo com a promotoria espanhola e cumpre pena de seis anos e um dia de prisão. O tempo de pena é menor do que o da condenação anterior, de oito anos. Rodrigues também foi condenado a pagar uma multa de 2 milhões de euros.
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