. Sou um engenheiro civil, já aposentado, com 72 anos, residente em SC ...
Prezados Senhores.
Sou um engenheiro civil, já aposentado,
com 72 anos, residente em SC e com uma prática profissional de quase 50 anos.
Atuei em obras de terra de barragens para hidrelétricas, água de abastecimento,
estradas de acessos às obras, entre outras. Como profissional me interessei com
os acidentes de Mariana e Brumadinho, chegando a poucos dias a uma conclusão de
um fenômeno ainda não considerado; que as rupturas ocorreram subitamente sem
aviso prévio, observado-se que os maciços de rejeitos de mineração antes tidos
como materiais sólidos, se converteram bruscamente em lamas liquefeitas, que
provocaram avalanches com efeitos mortais nas bacias dos rios a jusante.
Vi
diversos vídeos no youtube onde claramente se observa lamas liquefeitas
fluírem. À luz das teorias da mecânica dos solos tal fenômeno de liquefação
súbita não é observado e nem explicado. Lembrei ao folhear um antigo livro
texto de materiais de construção, que no capítulo de areias existe a menção do
efeito da tixotropia das areias que, antes firmes, se agitadas, se liquefazem
subitamente. Como pelo noticiário soube que o material de rejeito é rico em
sílica, ou seja, areia, me veio a hipótese da ocorrência da tixotropia das
areias, que explica muito bem a observada súbita liquefação dos materiais
retidos pelas barragens de rejeitos, que não são calculadas para resistir a tal
efeito.
Infelizmente constatei que os critérios de segurança usados nas
certificações, são os tradicionais da mecânica dos solos, empregados para
barragens de terra para fins hidrelétricos e abastecimento de águas, onde,
obviamente, não existe a consideração de tais hipóteses de liquefação súbita, pois
os critérios de barragens de rejeitos são diferentes das de barragens de águas.
Pesquisando a tixotropia, na natureza ela ocorre no chamado efeito das areias
movediças. Existe em perfurações profundas o uso de lâminas tixotrópicas, que
se liquefazem durante a movimentação das brocas, e solidificam nas paradas,
tapando o furo para saída de líquidos abaixo em alta pressão.
Ja mandei muitas matérias para o Estadão, do qual sou
assinante, comentando a tragédia de Brumadinho, aventando o efeito da
tixotropia que explica facilmente o ocorrido, mas obviamente um exótico
engenheiro sulista não é sequer ouvido. Peço que seus técnicos nas suas
análises passem a considerar o fenômeno da tixotropia, pois tenho o
pressentimento que ocorre faz muito tempo, um gande erro técnico coletivo.
Como
sei que a Vale é uma empresa séria, é claro que considerava a barragem de
rejeitos desativada segura, pois a sua diretoria por mais que empenhada que
fosse na busca de lucros, jamais consideraria ameaçar seu mais de 300 colaboradores,
onde havia em muitos a inteligência empresarial de mineração agora perdida.
Também me causa revolta, que os engenheiros que certificaram a segurança das
barragens, usando critérios técnicos, constantes das normas técnicas da ABNT,
agora sejam postos como bodes expiatórios da tragédia, por uma juíza e
promotores que querem ver sangue, atribuindo aos colegas que agiram em boa fé,
os piores crimes imaginados e os tratando como perigosos criminosos. Para
aquela juíza deve valer o lema: -"castigar é preciso, desvendar a
realidade da tragédia não é preciso".
Peço-lhe que os senhores na análise
do ocorrido, consigam, junto às autoridades, que se aja como na análise de
acidentes aéreos, não se procurem culpados, mas sim, se descubram as vedadeiras
falhas e erros, evitando-se sua repetição. Estou plenamente convencido da
necessidade da introdução do fenômeno da tixotropia nas futuras análises de
segurança em barragens de rejeitos, tanto na análise das já existentes como nas
futuras a construir. Emergencialmente, nas existentes, caso estejam
encharcadas, medidas de drenagem de seu interior seriam talvez adequadas. Caso
haja interesse dos senhores, poderei por esse meio enviar meus comentários ao
Estadão, sobre o que penso sobre as matérias jornalísticas publicadas sobre o
acidente de Brumadinho.
Atenciosamente
Ulf Hermann Mondl,
RG 1.254.999 SC
Rua das Palmeiras, 318,
Bosque das Mansões,
São José- SC CEP 88108-430
48 99101-9577
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