*Forças armadas* - Pacote em negociação reduz déficit de militares em 25%
Veículo: O GLOBO - RJ
Editoria: ECONOMIA
Autor(a): GERALDA DOCA E MARTHA BECK
Tipo: Matéria
Veiculação: 02/02/2019
*Forças armadas* - Pacote em negociação reduz déficit de
militares em 25%
Militares querem reajuste salarial e aumento de adicional
que incide sobre soldos.
Como contra partida para incluir os militares na reforma
previdenciária, com aumento do tempo na ativa e da alíquota de contribuição,
governo estuda criar um posto a mais na hierarquia e conceder gratificação em
cursos de especialização. Militares querem reajuste salarial. Para incluir as
Forças Armadas na reforma da Previdência, o governo estuda fazer ajustes na
carreira dos militares com a criação de mais um posto para graduados e oficiais
e elevar as gratificações referentes a cursos de formação e especialização.
Essas medidas estão sendo negociadas entre os Ministérios da Defesa e da
Economia como moeda de troca pela mudanças nas regras de aposentadoria da
categoria. Projeções enviadas à equipe econômica apontam que o conjunto de
medidas negociadas poderá reduzir o déficit previdenciário dos militares, que
ficou em R$ 43,8 bilhões no ano passado, em até 25% num período de dez anos.
Segundo uma fonte a par das discussões, a criação de mais um degrau na carreira
para graduados (de sargento a suboficial) e oficiais é necessária porque, com a
reforma, o tempo de permanência na ativa subirá dos atuais 30 anos para 35
anos. Seria uma espécie de compensação, para que os militares possam ser
promovidos mais uma vez.
Para se ter uma ideia, hoje um 3º sargento da Força Aérea
leva sete anos para ser promovido a 2º sargento, mais sete anos ao posto de 1º
sargento e mais sete anos ao posto de suboficial. O ganho adicional dessa
ascensão é de R$ 945, R$ 713 e R$ 686, respectivamente, ao longo da carreira.
Sem um posto extra, eles teriam que ficar mais tempo com a mesma patente -o que
desagrada à tropa. Com o aumento do tempo na ativa, também está em análise
alterar o limite de idade para que o militar possa permanecer na ativa. No caso
dos graduados, eles são obrigados a passar para a reserva aos 54 anos. Para os
oficiais, essa idade fica entre 56 e 68 anos.
Os militares também querem reajuste salarial e defendem
aumento do adicional que incide sobre os soldos de quem faz cursos de formação
e especialização. As alíquotas variam entre as patentes e vão de 12% a 30%.
Além do aumento do tempo na ativa, os militares aceitam
elevar de 7,5% para 11% a alíquota de contribuição previdenciária e concordam
que pensionistas e alunos em escola de formação também passem a contribuir com
o mesmo percentual. Esses pontos vêm sendo discutidos pela caserna desde 2017,
quando a proposta de reforma do expresidente Michel Temer -que mexia somente
com a aposentadoria dos civis - tramitava no Congresso. O plano do governo
anterior era enviar um projeto de lei para alterar as regras dos militares
depois da aprovação da reforma.
O aumento do tempo na ativa tem o objetivo de acabar com as
aposentadorias precoces nas Forças Armadas. De acordo com estudo do Tribunal de
Contas da União, 55% dos integrantes da carreira militar vão para a reserva com
idade entre 45 e 49 anos; e 33% do quadro, na faixa de 40 a 44 anos. Mas há
casos de transferência para a inatividade de militares com 39 anos de idade.
A inclusão dos militares na reforma da Previdência já é
ponto pacífico dentro do novo governo. Ela foi negociada pela equipe econômica
com o presidente Jair Bolsonaro. O entendimento é que toda a sociedade tem que
contribuir para a solução do principal problema das contas públicas. O rombo
dos regimes de aposentadorias de trabalhadores do setor privado e de
funcionários públicos civis e militares somou nada menos que R$ 284,6 bilhões
em 2018, quando as contas ficaram no vermelho pelo quinto ano consecutivo.
No caso dos militares, o rombo de R$ 43,8 bilhões é menor
que o observado no INSS (R$ 194,3 bilhões) e no regime dos servidores públicos
(R$ 46,4 bilhões). No entanto, é o desequilíbrio que mais depende de uma
compensação federal. O Tesouro é responsável por 92% das despesas com
aposentadorias e pensões dos militares. No INSS, esse percentual é de 31%. No
serviço público, a parcela subsidiada é de 49%.
TRATAMENTO DIFERENCIADO
O que ainda não está definido, no entanto, é o momento em
que o projeto que trata dos militares será enviado ao Congresso. A equipe do
ministro da Economia, Paulo Guedes, defende que o Legislativo receba uma
proposta de reforma completa, que inclua todas as categorias. Já as Forças
Armadas argumentam que suas mudanças devem ficar para um segundo momento. A
reforma nas aposentadorias dos civis precisa ser feita por meio de emenda à
Constituição, o que requer um quórum qualificado para poder passar no
Congresso. No caso dos militares, o assunto pode ser tratado por projeto de
lei, que tem maiores chances de uma rápida aprovação. Assim, o temor é que a
emenda seja barrada enquanto o endurecimento das regras para os militares
passe. As Forças Armadas alegam que precisam ter um tratamento diferenciado dos
demais trabalhadores. Entre os argumentos está o fato de que a carreira militar
tem especificidades, como ausência do pagamento de horas extras e adicional
noturno. Além disso, alegam que é inviável que profissionais de idade avançada
continuem a desempenhar atividades como a de soldado, que exigem esforço
físico. Outro argumento é que os integrantes da reserva podem ser convocados a
qualquer momento em caso de emergência.
Os militares argumentam ainda que, em 2000, deram uma cota
de contribuição para reduzir gastos com os quadros. Uma das medidas adotadas
foi o fim da pensão vitalícia das filhas para quem ingressou depois dessa data.
Outra medida foi o fim da contagem de tempo em dobro para a reserva de quem não
chegou a se beneficiar de licenças especiais.
Principais pontos da proposta
Aumento do tempo de permanência dos militares na ativa
Esse período é de 30 anos hoje, mas passaria para 35 anos. A
regra vale tanto para homens quanto para mulheres.
> Aumento da alíquota de contribuição previdenciária dos
militares
Essa alíquota hoje é de 7,5% e incide sobre os salários. Ela
passaria para 11%.
> Cobrança de alíquota previdenciária dos pensionistas
Hoje, os militares continuam contribuindo com a mesma
alíquota da ativa mesmo quando passam para a reserva. No entanto, pensionistas
(viúvas, viúvos e filhas) não sofrem o desconto. A ideia é que a alíquota passe
a ser cobrada de todos.
> Cobrança de alíquota previdenciária de alunos em
escolas de formação
Hoje, os alunos não precisam recolher o tributo sobre os
soldos. Eles passariam a sofrer esse desconto.
> Revisão da idade limite para que o militar passe à
reserva
Essa idade hoje é de 54 anos para graduados e varia de 60 a
68 anos para oficiais. A ideia é que essa idade suba.
> Reestruturação da carreira
Para diluir os cinco anos de aumento no tempo do militar na
ativa, está sendo estudada a criação de um novo degrau (posto) na carreira
tanto para graduados quanto para oficiais.
> Reajustes do adicional de habilitação e dos salários
As Forças Armadas avaliam que os salários estão defasados e
que o adicional de habilitação pago a quem faz cursos de especialização e
formação é muito baixo.
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