Rússia traça linha divisória na Síria
A reação da Rússia à derrubada de um dos seus aviões que operam na Síria,
provocada por um ataque aéreo de Israel ao país árabe, foi a de traçar a
proverbial linha divisória no terreno. Mesmo após a visita de uma delegação
militar israelense de alto nível a Moscou, para tentar eximir os seus aviadores
de responsabilidade pelo incidente que resultou na morte dos 15 tripulantes da
aeronave russa, Moscou não se deixou convencer e anunciou o que equivale ao
estabelecimento de uma virtual zona de exclusão aérea sobre grande parte do
território sírio, principalmente, os quadrantes utilizados pela aviação
israelense em seus ataques.
Em um briefing
à imprensa, na segunda-feira 24, o ministro da Defesa Sergei Shoigu anunciou o
envio à Síria de baterias antiaéreas S-300 e sistemas de controle e
identificação de alvos mais sofisticados que os atualmente empregados pelos
militares sírios. Adicionalmente, informou que “a Rússia irá interferir com
(sistemas de) navegação por satélite, radares embarcados e sistemas de
comunicação de aviões de combate que ataquem alvos no território sírio, nas
regiões sobre as águas do Mar Mediterrâneo limítrofes com a Síria (RT, 24/09/2018)”.
Segundo ele, a derrubada do avião de patrulha Il-20 “nos forçou a dar uma
resposta adequada, visando a melhorar a segurança das tropas russas que estão
desempenhando tarefas de combate ao terrorismo internacional na Síria”.
Sem mencionar Israel, Shoigu acrescentou: “Estamos convencidos de que a
implementação dessas medidas irá resfriar as cabeças quentes e evitará ações
mal consideradas, que ameacem os nossos militares. De outra forma, teremos que
responder de acordo com a situação atual.”
O S-300 é um sistema incomparavelmente mais sofisticado que os seus
antecessores S-200, da era soviética, atualmente operados pelas forças sírias,
um dos quais derrubou o Il-20, depois que os caças israelenses que atacavam
Latakia se colocaram por trás dele, para confundir o radar de orientação do míssil.
Com um alcance superior a 250 quilômetros, ele pode detectar e engajar alvos
hostis até mesmo sobre Israel ou bem dentro do território sírio ao leste do rio
Eufrates, atualmente ocupado por milícias curdas e militares e mercenários
estadunidenses, franceses e britânicos, além de forças residuais do Estado
Islâmico.
O equipamento já havia sido encomendado pela Síria, mas não fora
entregue, por instâncias de Israel, às quais Moscou havia cedido, por
considerar que um entendimento informal com Tel Aviv seria mais vantajoso para
as suas operações no país árabe. Diante da facada nas costas, o Kremlin decidiu
reconsiderar.
Em uma análise publicada no
mesmo dia, o conhecido analista militar The Saker (pseudônimo do suíço
Andrei Raevsky, que atualmente vive na Flórida) sintetizou as consequências da
medida russa:
- Estabelece uma zona de exclusão aérea de fato, mas não de direito, sobre a Síria. Assim, os russos terão a flexibilidade de decidir, nação por nação e avião por avião, que aviões serão suprimidos/engajados e quais serão apenas acompanhados e monitorados. Isto dará à Rússia uma posição negociadora muito forte diante de todos os atores dessa guerra.
- Não é preciso dizer que,
embora essas novas capacidades serão mobilizadas na Síria, em resposta às
ações israelenses, elas também aumentarão dramaticamente as capacidades
sírias frente a quaisquer
agressores potenciais, incluindo os EUA e seus Estados
clientes. (…)
- Apesar de os russos não
terem indicado que tipo de sistema automatizado de gerenciamento de defesa
aérea planejam entregar à Síria, é provável que seja o que é comumente
usado para controlar o engajamento dos sistemas antiaéreos S-300 e Buk, o
Poliana D-4. A entrega deste sistema aumentará dramaticamente as
capacidades de defesa antiaérea da força-tarefa russa na Síria, tornando
muito mais difícil para os neocons à
la (John) Bolton atacarem as forças russas (grifos no original).
Obviamente, os S-300 e os sistemas de interferência eletrônica russos não
são infalíveis, mas a sua presença e, principalmente, a determinação de usá-los
de forma efetiva, dificultam sobremaneira quaisquer operações hostis e
sinalizam um fim à liberdade de ação até agora desfrutada pelas forças aéreas
da coalizão.
Não obstante, será preciso aguardar para ver como reagirão os piromaníacos
de Washington e Tel Aviv (os de Londres e Paris só atuam a reboque, nunca na
dianteira), diante de mais um rude golpe nos seus planos de manter a Síria sob
sítio.
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