FAB vai desistir de parte dos KC-390: faltam recursos

 



A Força Aérea Brasileira divulgou na noite desta quarta-feira (26 de maio) uma Nota Oficial que traz uma notícia nada animadora para o KC-390. Alegando falta de recursos por conta do combate à pandemia de Covid-19, a FAB irá cancelar parcialmente a encomenda de 28 aeronaves.

A FAB não informou quantos dos 28 jatos encomendados serão cancelados, mas informou na Nota Oficial que o objetivo é reduzir este número. Segundo o texto, a ideia é manter uma cadência de duas aeronaves por ano.

Hoje, há quatro KC-390 em serviço a partir da Base Aérea de Anápolis (GO). O cronograma atual previa a entrega de mais três aeronaves em 2021, três em 2022, quatro em 2023, três em 2024, quatro em 2025, quatro em 2026 e três em 2027. O planejamento não será cumprido.

LEIA TAMBÉM: Orçamento de 2021 só atende metade das necessidades das Forças Armadas

A decisão surpreende: desde a assinatura do contrato de desenvolvimento do KC-390, durante a edição de 2009 da feira de defesa LAAD, a Força Aérea Brasileira sempre apontou a aeronave como um dos seus projetos prioritários.

Durante o Seminário de Defesa Nacional promovido pelo Ministério da Defesa em 13 de novembro do ano passado, o então Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Bermudez, mostrou otimismo com a aquisição do KC-390. “Um marco de excelência no gerenciamento de projeto”, definiu o ex-Comandante, que ressaltou se tratar de uma iniciativa com benefícios nos campos econômico, social, tecnológico, institucional e estratégico.

Em 2019, o então Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos Augusto Amaral Oliveira, disse em uma reunião com parlamentares na Câmara dos Deputados que o Brasil tinha uma grande oportunidade com o KC-390, mas podia perdê-la. “O fluxo de recurso para esse projeto é fundamental por conta principalmente de uma janela de oportunidade que existe no mercado global”, alertou. O militar, na ocasião, mostrou que o financiamento do governo já não era adequado.

LEIA TAMBÉM: Melhor que o C-130J, KC-390 causa incômodo

Hoje, apesar de elogiar o desempenho dos KC-390, o texto da Nota Oficial do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica deixa claro que agora há a aceitação dos cortes orçamentários frente a outras demandas do Governo Federal. “O Comando da Aeronáutica entende que o escopo contratual deve ser reavaliado, com foco na melhor adequação da produção e nos interesses públicos”, diz a Nota.

LEIA TAMBÉM: Jatos KC-390 da FAB se aproximam das 2.500 horas de voo

Também foi ressaltado na Nota Oficial divulgada nesta quarta-feira que cortes de projetos do tipo não são incomuns. “Cabe ressaltar que, mesmo em um cenário economicamente estável, reavaliações e modificações contratuais no mercado da aviação internacional ocorrem com frequência, por se tratar de uma área dinâmica e que envolve cifras vultosas”, completa a Nota.

O contrato para a aquisição das 28 aeronaves foi assinado pela Presidência da República em 2014. Apesar de hoje a FAB ter citado em sua Nota Oficial os gastos do governo com a pandemia de Covid-19, também é dito que havia uma série de análises orçamentárias e estudos operacionais iniciados desde 2019.

A notícia do cancelamento parcial de encomendas para o Brasil, país de origem do projeto, pode significar um revés no esforço da Embraer para conquistar mais exportações. Até agora, duas vendas foram conquistadas, para Portugal (5 unidades) e Hungria (2 unidades). Ambos os países começam a receber seus KC-390 a partir de 2023.

O cancelamento de parte das compras deve afetar as cerca de 50 empresas nacionais envolvidas na produção dos KC-390. O projeto já havia gerado mais de 8 mil empregos diretos e indiretos. Ainda não há uma estimativa do que será impactado.

Confira a Nota Oficial na íntegra:

Informações sobre contrato da Aeronave KC-390


A crise sanitária que o mundo vem enfrentando desde o fim de 2019 tem provocado reflexos na conjuntura econômica global, com impactos também na situação fiscal e orçamentária brasileira. Como consequência, os recursos destinados ao setor de defesa vêm sofrendo restrições que causam limitações diretas nos projetos estratégicos das Forças Armadas.

Nesse contexto, a Força Aérea Brasileira, mantendo seu compromisso com as metas orçamentárias e em consonância com o cenário atual, decidiu rever os caminhos a serem seguidos na continuidade do contrato de produção da Aeronave KC-390 com a Embraer. Devido à complexidade deste tema, é necessário considerar os diversos aspectos que impactaram diretamente esta tomada de decisão.

A questão principal refere-se ao número previsto de 28 aeronaves do atual contrato, o qual, neste momento, tem se mostrado superior à realidade orçamentária da Força, tanto para aquisição, quanto ao suporte logístico ao longo do tempo.

Desde o início de sua operação, a frota de aeronaves KC-390 vem apresentando excepcionais índices de disponibilidade e despachabilidade, resultando em uma capacidade muito superior em volume e agilidade no transporte de cargas e pessoal, fatores observados com sucesso durante as as diversas missões realizadas ao longo de 2020 e 2021.

Assim, considerando a conjuntura socioeconômica atual e os altos índices de desempenho das unidades já entregues, o Comando da Aeronáutica entende que o escopo contratual deve ser reavaliado, com foco na melhor adequação da produção e nos interesses públicos.

Cabe ressaltar que, mesmo em um cenário economicamente estável, reavaliações e modificações contratuais no mercado da aviação internacional ocorrem com frequência, por se tratar de uma área dinâmica e que envolve cifras vultosas.

Em síntese, após uma série de análises orçamentárias e estudos operacionais iniciados em 2019, fundamentados nas previsões legais em vigor, foi determinado pelo Alto-Comando da Aeronáutica o início do processo de negociação contratual junto à Embraer. O objetivo será reduzir o número total de aeronaves entregues, com base no atual contrato, e buscar uma cadência de produção de 02 aeronaves por ano, fatores considerados adequados observando-se os aspectos operacionais, logísticos e financeiros.

Por fim, a Força Aérea Brasileira reforça que considera a Embraer uma parceira estratégica na implementação de soluções e desenvolvimento de produtos tecnológicos, que têm sido fundamentais para o pleno cumprimento de sua missão constitucional. Tal fato é evidenciado pelos projetos conjuntos que estão em curso, como o estudo para a concepção de veículos aéreos não tripulados e o desenvolvimento conceitual de uma nova aeronave de transporte leve.

Brasília, 26 de maio de 2021.

Centro de Comunicação Social da Aeronáutica




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bolsonaro retoma contato direto com o povo brasileiro ...

Denúncia pede pena máxima a Carol Solberg e multa de R$ 100 mil...

Militar de voo presidencial brasileiro é preso com droga na Espanha