Cientistas implantam gene de inteligência humana em macacos
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Pesquisa investiga a influência de um gene no desenvolvimento cerebral em humanos; projeto levanta polêmicas na comunidade científica
Adicionar genes humanos em animais parece, na maioria das vezes, um prenúncio de grandes desastres – é assim em filmes como Planeta dos Macacos, por exemplo. Pesquisadores chineses fizeram exatamente isso em um estudo publicado na revista chinesa National Science Review, em março. Os genes do cérebro humano foram aplicados para melhorar a memória de curto prazo dos macacos. Mas, agora, a comunidade científica está preocupada com os efeitos dessa atividade.
O objetivo da pesquisa, liderada pelo geneticista Bing Su, do Instituto de Zoologia Kunming, era investigar como um gene ligado ao tamanho do cérebro – o MCPH1 – poderia contribuir para a evolução do órgão em humanos. Todos os primatas têm alguma variação desse gene, apesar de o cérebro ser menor, menos avançado e mais rápido para se desenvolver em relação ao de um humano. Essa diferença é base para investigar se a evolução do MCPH1 pode explicar a complexidade dos nossos cérebros.
Ao todo, 11 embriões de macacos rhesus receberam o gene humano do MCPH1. Os cérebros dos macacos transgênicos se desenvolveram em um ritmo mais lento, semelhante ao de um humano, e responderam de forma mais rápida a testes de memória de curto prazo envolvendo cores e formas correspondentes, quando chegaram a 2-3 anos de idade. Não houveram diferenças no tamanho do cérebro ou em outros comportamentos.
Polêmica genética
Os resultados, no entanto, não ocupam o centro das atenções da comunidade científica. Muitos questionam a ética da aplicação de um gene do cérebro humano em um macaco e associam estas técnicas ao princípio de práticas perigosas, como a criação de animais com inteligência humana. Um artigo de 2010, liderado por James Sikela, geneticista da Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado, pergunta se um macaco humanizado seria inserido de forma marginalizada na sociedade.
Para justificar o trabalho, Su e seus coautores sugeriram que ele forneceria informações sobre distúrbios neurodegenerativos. Ao jornal China Daily, Su escreve: "Os cientistas concordam que os modelos de macacos às vezes são insubstituíveis para a pesquisa básica, especialmente no estudo de fisiologia, cognição e doenças humanas". Na pesquisa, os cientistas ainda afirmam que a "distância filogenética relativamente grande dos macacos rhesus alivia preocupações éticas".
Rebecca Walker, bioeticista da Universidade de North Carolina, não é partidária deste raciocínio. "Não importa quando eles se diferenciaram dos seres humanos na árvore filogenética. Eles estão falando sobre a melhoria da memória de curto prazo, o que aproxima os macacos de nós em termos dessas habilidades cognitivas", afirma a cientista. Para ela, manipular essas habilidades, torna o trabalho eticamente dúbio e exige uma justificativa mais forte.
Sikela, o mesmo que escreveu o artigo em 2010, concorda que essa mudança pode ser pequena. Ainda assim, ele alerta para a hipótese de encontrar um gene com grande efeito na cognição: "Há alguns elementos arriscados em seguir esse caminho. É preciso pensar nas consequências de onde isso está levando e qual é a melhor maneira de estudar essa pergunta".
Walker também se preocupa com isso, indicando que a ciência pode rapidamente avançar para algo tão mórbido quanto melhorias artificias no cérebro humano: "É, sim, preocupante fazer essa pesquisa com primatas. Ainda mais quando pensamos em como isso poderia ser usado em humanos".
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