Bolsonaro convoca Guedes para explicar “sigilo” dos dados na reforma da Previdência
Carlos Newton
Desde o início do debate sobre a reforma da Previdência, ainda no governo Michel Temer, a “Tribuna da Internet” vem cobrando a divulgação dos dados sobre a situação verdadeira do INSS em termos de receitas, despesas e sonegações. Temer saiu, veio o governo Bolsonaro, mas o problema continua, ninguém consegue saber exatamente qual é o retrato da Previdência.
ATÉ AGORA, NADA – O projeto da emenda constitucional foi entregue à Câmara no dia 20 de março, sem anexação dos dados oficiais que justificariam a reforma do sistema. A Folha de S. Paulo, através dos repórteres Flávio Fabrini e Bernardo Karam, solicitou estes dados à equipe econômica, mas o ministro Paulo Guedes proibiu que sejam fornecidos à imprensa ou a quem quer que seja.
Além do sigilo determinado por Guedes, o INSS também baixou uma norma interna em março, desautorizando seus funcionários a se manifestar à imprensa sobre a reforma da Previdência. No ofício, direcionado a diretores, gerentes e auditores, o INSS argumenta que esclarecimentos sobre o tema devem ser dados exclusivamente pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, subordinada ao Ministério da Economia.
FOI MANCHETE – O sigilo ilegal dos dados que justificariam a reforma da Previdência foi a manchete da Folha neste domingo, com enorme repercussão, e o assunto é o tema central da reunião dos partidos oposicionistas na Câmara dos Deputados, nesta segunda-feira, véspera da abertura dos debates sobre o parecer do relator da reforma na Comissão de Constituição e Justiça.
O sigilo determinado por Guedes vai ter efeito de uma bomba no plenário da Câmara. A decisão de Guedes foi uma tremenda surpresa para o presidente Jair Bolsonaro e o núcleo duro do Planalto, porque todos desconheciam essa decisão de colocar sob sigilo justamente os dados que deveriam estar sendo usados na Câmara para justificar a reforma.
Neste Domingo de Páscoa, foi terrível a decepção de Bolsonaro e dos ministros com essa postura de Guedes, que deixou o governo em péssima situação junto ao Congresso e à própria opinião pública. Como explicar aos deputados que os dados são sigilosos? É óbvio que os parlamentares jamais aceitarão uma maluquice dessas.
NA BERLINDA – O fato concreto é que não é de hoje que Bolsonaro está desconfiado em relação a Guedes. O presidente já demonstrou não concordar com o sistema da capitalização e deu sinal verdade para o Congresso “deixar para uma segunda etapa”. Também não aceita as maluquices da Petrobras, que está pouco ligando para os interesses do governo. Aliás, o presidente do estatal, Roberto Castello Branco, demonstra ser ainda mais presunçoso do que Guedes, algo verdadeiramente inacreditável, o núcleo duro do governo já está de olho nele.
Bolsonaro convocou Guedes a se explicar agora à tarde. A reunião começa às 15 h e não tem hora para terminar. A única coisa certa é que não vai acabar bem para o ministro, que julga ser o verdadeiro chefe do governo, mas está enganado. Muito enganado.
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P.S. 1 – A iniciativa de Guedes, que tenta ocultar a verdade sobre a Previdência, evidencia a necessidade de se fazer uma auditoria sobre receitas, despesas e sonegações, conforme propõe a auditora Maria Lucia Fattorelli.
P.S. 2– A piada é velha, mas sempre atual. Com aliados como Guedes e Castello Branco, o presidente nem precisa de inimigos. (C.N.)
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