CRISE MILITAR?

Hoje, na revista Época (não sei se somente na digital. Vi no Google.), há uma reportagem intitulada "Os bastidores da maior crise militar no Brasil em 40 anos".

O subtítulo diz "como o presidente Jair Bolsonaro tramou e executou uma mudança inédita nas Forças Armadas".

Não estou na ativa e não posso avaliar o que está a acontecer nos quartéis.   Evito ir a quartéis porque não sou bem recebido no lugar onde trabalhei por mais de 30 anos. Ouço apenas que está tudo muito diferente de como era antes, o que se configura até no tratamento desrespeitoso para com os militares da reserva. 

Mas não vejo crise nenhuma, em quartel nenhum, em meio militar nenhum, em razão do que converso com alguns poucos amigos. 

Mas há crise, sim. 

Há crise entre alguns generais da reserva que se põem a criticar o governo e o presidente. Crise de ciúmes,  de vaidades feridas (em razão de não aceitarem o fato de serem comandados por um "capitão", sem curso de altos estudos militares e sem ser "doutor" em arte da guerra. Esquecem-se de que ele foi o "doutor" que teve peito para enfrentar os esquerdosos, a imprensa  e a corrupção, expondo a própria vida, e que ele é o comandante eleito com 58 milhões de votos). Para alguns de mente curta, o ramo de café na gola e o bastão de comando valem mais que 58 milhões de votos.

Há crise, sim, de lealdade  por parte de generais que foram exonerados do governo e, ingratos, se põem a criticar o governo do qual fizeram parte.

Há crise, sim, entre generais que não foram convidados para integrar o governo e se põem a criticar o presidente (figura bastante conhecida do macarrão, que é duro somente fora da "panela"). Alguns até foram derrotados nas últimas eleições e atribuem a culpa da derrota ao presidente, porque consideram que ele não deu ao candidato o devido e necessário apoio ou não o convidou para um "carguinho" no governo.

Há crise, sim, de patriotismo entre alguns generais (por mais paradoxal que pareça haver falta de patriotismo em militares).  Mas ocorre naqueles que colocam a vaidade e o ego acima dos interesses do Brasil. Assim como há semi-deuses no STF, também  há militares que assim se julgam em razão de haverem  alcançado os mais altos postos e que colocam o ego acima da Pátria: sua vaidade e seu ego não lhes permitem ver que o inimigo são os comunistas, os esquerdosos, os políticos impatriotas que querem entregar o país para outros países e outros países que querem avançar sobre nossas riquezas, nossa Amazônia e nossa agricultura.

Há crise, sim, do espírito militar, do espírito de  sacrifício que a profissão exige, do senso de cumprimento do dever, da dedicação integral ao país. A crise do espírito de sacrifício pode até ter sido obscurecido por regalias às quais se acostumou. 

Há crise, sim, da capacidade de decidir e de assumir as responsabilidades pela decisão.

Há crise, sim, de coragem, de iniciativa, da capacidade de decisão.

Há crise, sim, de afastamento de alguns comandantes militares de seus comandados, distanciados que estão de seu pensamento, de seus pleitos e de seus anseios. Isto faz com que expressem opinião meramente pessoal como se da Instituição fosse. 

Há crise, sim, de disciplina, por parte de militares que se põem a criticar o comandante supremo das Forças Armadas, por questões pessoais e por interesses e tolas vaidades contrariadas. Tanto há crise de disciplina que um coronel se atreve a  expor mazelas de generais (fato inimaginável tempos atrás, quando não havia tais manifestações por parte de militares), mas o faz em nome dos valores maiores do patriotismo, do chamamento à disciplina,  da lealdade à carreira que escolheu e em nome da qual mantém intactos o entusiasmo e a fé nos sagrados valores que lhe foram ensinados na Academia Militar das Agulhas Negras e que alguns, lamentável e dolorosamente, esquecem de cultivar e de exercitar.

Não houvera a primeira  indisciplina, bem maior e mais grave porquanto expõe a Instituição Exército Brasileiro, , certamente não existiria a segunda.


Cláudio Eustáquio Duarte.

Coronel de Infantaria de 1971, Turma Marechal Castelo Branco.

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