O Terrorismo Cultivado na França
por Giulio Meotti
15 de Outubro de 2019
- A polícia francesa que investigava uma mulher suspeita de ligações com o ISIS descobriu um pen drive contendo dados pessoais, como endereços residenciais, de milhares de policiais franceses. Quem forneceu essas informações?
- "Nas
ruas, mulheres usando véus e homens com jellabas (túnicas) são na
realidade propaganda, a islamização das ruas, assim como os uniformes de
um exército de ocupação lembram os derrotados sobre a sua submissão".
– Jornalista francês Eric Zemmour, 28 de setembro de 2019.
- Le
Monde, o jornal mais conceituado da França,
publicou um artigo opinativo após um recente atentado acusando o país de
"Macarthismo Islamofóbico." Harpon, o terrorista que matou seus
colegas no quartel-general da polícia com certeza iria concordar.
- O problema é
que faz anos que a França se encontra em estado de negação com respeito ao
Islã radical.
Policiais interditam uma rua perto do
quartel-general da polícia de Paris depois que um terrorista matou quatro
policiais no casarão em 3 de outubro de 2019 em Paris, França. (Foto: Marc
Piasecki/Getty Images)
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Desta
vez o terrorista não usou armas de fogo, as vítimas não eram crianças
desarmadas, nem cartunistas, nem judeus, eram policiais.
O
local onde ocorreu o ataque de 3 de outubro também salta aos olhos:
"tem-se como certo que o quartel-general da polícia de Paris é uma espécie
de fortaleza, afinal é o símbolo da ordem pública na França e da luta
antijihadista e foi justamente esse baluarte que foi sacudido," salientou o
conceituado intelectual francês Gilles Kepel ao Le Figaro.
"Ingressamos
em um... terrorismo 'made in France'... com um misto de orações às
sextas-feiras ministradas por imãs extremistas, redes sociais e a
instrumentalização de pessoas vulneráveis. Tem tudo a ver com uma nova
modalidade de pânico na sociedade visando lugares famosos, ícones... O ataque é
um divisor de águas no terrorismo islamista."
O
facínora Mickaël Harpon, nascido na ilha de Martinica, departamento ultramarino
da França, foi alvejado e morto depois de esfaquear
quatro pessoas que não resistiram aos ferimentos, com uma faca de
cozinha de cerâmica. O ataque ocorreu
na hora do almoço no quartel-general da polícia de Paris. Harpon, um civil,
especialista em TI na divisão da inteligência com credenciais
de acesso de alto nível e livre movimentação, trabalhou para
a polícia durante 16 anos. Primeiro ele matou três homens na divisão de
inteligência, na sequência esfaqueou duas policiais em uma escadaria (uma veio
a óbito), antes dele finalmente ser alvejado e morto no pátio do edifício.
Harpon, convertido de
longa data ao Islã e assíduo frequentador da mesquita local,
participava das orações da manhã e da tarde. Um Imã
radical que lá pregava por pouco não foi expulso da França.
De
acordo com o Wall Street Journal:
"As
autoridades descobriram inúmeros pen drives sobre a mesa dele, segundo as
autoridades um desses pen drives continha informações pessoais de agentes e
violenta propaganda islamista.
"A
pergunta chave é se Harpon fez o download dos dados para o pen drive para o
trabalho dele... ou para enviá-los aos contatos que tinha com extremistas que
poderiam usá-los para atacar a polícia."
Em
2016 Patrick Calvar, diretor geral da inteligência interna da França, ao se
referir a uma série de salafistas ativos na França, (15 mil naquela época) declarou:
"a confrontação é inevitável". Agora, de dentro, um deles atingiu
"o sistema".
"O
ataque ao quartel-general da polícia pode ser considerado o mais grave em nosso
solo desde 13 de novembro de 2015," salientou Thibault
de Montbrial, presidente do Centro de Segurança Interna, um think tank francês.
"Por
quatro anos a fio a França sofreu inúmeros ataques. Alguns provocaram altíssima
perda em vidas humanas, como em Nice em 2016. Mas esse caso na chefia da
polícia já é outra coisa, completamente diferente: é a primeira vez que ocorre
um ataque de 'fogo amigo', no qual um membro da força policial ataca seus
colegas."
No
coração do programa extremista, está, ao que tudo indica, a separação. "De
que maneira um amontoado de redes islamistas conseguiu criar enclaves
ideológicos dentro de bairros populares?", pergunta o autor Bernard
Rougier em Les
territoires conquis de l'islamisme ("Os Territórios
Conquistados pelo Islamismo"). O livro ainda inédito documenta o
funcionamento das redes islamistas em inúmeros municípios, como Aubervilliers,
Argenteuil, Tremblay-en-France e Mantes-la-Jolie.
De
acordo com o jornalista francês Eric
Zemmour:
"Nas
ruas, mulheres usando véus e homens com jellabas (túnicas) são na realidade
propaganda, a islamização das ruas, assim como os uniformes de um exército de
ocupação lembram os derrotados sobre a sua submissão. O antigo tríptico
da imigração, integração e assimilação foi substituído
pela invasão, colonização e ocupação."
Em
2016, um memorando interno da polícia revelou que
entre 2012 e 2015 não foram raras as ocasiões, em Paris, nas quais policiais
agiram de forma truculenta e radical ou se comportaram de maneira a preocupar
seus superiores. Certa vez, em 2016, um jihadista esfaqueou um
comandante de polícia e sua companheira na casa deles em Magnanville, região
oeste de Paris. Em outra ocasião a polícia francesa que investigava uma mulher
suspeita de ligações com o ISIS descobriu um
pen drive contendo dados pessoais, como endereços residenciais, de milhares de
policiais franceses. Quem forneceu essas informações?
A
impressão generalizada é que a França está sufocada com a multiplicação de
habitantes radicalizados. O terrorista que abriu fogo em uma
feira natalina em Estrasburgo em 2018 se encontrava na lista
de suspeitos, bem como os terroristas que atacaram o
supermercadoTrébes e também o homem que assassinou crianças judias em uma
escola em Toulouse.
As autoridades francesas sabiam da existência desses elementos e ainda assim
não foram capazes de detê-los.
Parece
que há uma estrondosa quebra de segurança. No caso da França, o buraco é mais
embaixo. Segundo um levantamento conduzido
pelo Pew Center, em 2050, de 12% a 18% da população da França será muçulmana.
As conversões para o Islã estão em franco
crescimento. O extremismo está se tornando de tal forma parte
integral do país que, de acordo com o historiador Pierre-André Taguieff, para
muitos cidadãos franceses o jihadismo virou uma "atração".
Já há várias aldeias na zona
rural francesa para onde convertidos e fundamentalistas se
retiram com o objetivo de praticar a forma "pura" do Islã.
Ao
prestar homenagem às vítimas do ataque terrorista contra o quartel-general da
polícia de Paris, o presidente Emmanuel Macron declarou que a França precisa
combater a "hidra"
da militância islamista.
O
problema é que faz anos que a França se encontra em estado de negação com
respeito ao Islã radical. O autor argelino Boualem Sansal salienta que
"em determinados distritos,"a "França anseia se tornar uma
república islâmica."
Le
Monde, o jornal mais conceituado da França, publicou um artigo
opinativo após o recente atentado acusando o
país de "Macarthismo Islamofóbico." Harpon, o terrorista que matou
seus colegas no quartel-general da polícia com certeza iria concordar: ele
compartilhou artigos chamando a
França de "um dos países mais islamofóbicos da Europa", tão
islamofóbico, que até Ahmed Hilali, o imã radical que mantinha contato com
Harpon, recebeu uma
ordem de deportação devido às suas ideias extremistas, a ordem, no entanto,
nunca foi cumprida.
Alexis
Brézet, editor do Le Figaro, cunhou o termo "dénislamisme"
("negação do islamismo"):
"Como
isso é possível? Como é possível um terrorista islamista estar tão enfronhado
no aparato estatal, no coração da estrutura policial, exatamente onde se
deveria combater as práticas islamistas, conseguir cometer o massacre? A Dénislamisme coloca
os franceses na linha de fogo. Ela tira do foco a percepção da ameaça e desarma
o espírito. No momento em que a mobilização deveria estar no auge, ela paralisa
a luta contra a infiltração islamista em nossas democracias. A Dénislamisme mata.
Nós não venceremos a guerra que o Islã radical declarou contra nós se
continuarmos a andar com os olhos fechados".
Giulio
Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista
e escritor italiano.
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